30.11.06

Primeiro concurso “Oh G Suis!” de literatura virtual

Eram tempos difíceis aqueles. Sentávamos em cadeiras vermelhas de plástico, pedíamos sempre as mesmas músicas da saudosa década de 90, bebíamos o líquido áureo que vinha em copos americanos com rachaduras e divagávamos sobre os assuntos nobres mais polêmicos do Oeste. Éramos chamados de bichinhos exóticos, calúnia jocosa para a qual dávamos os mais sublimes e coloridos motivos. Todos nós usávamos óculos de aro largo, o que garantia a validade dos nossos argumentos e, como se não bastasse, combinavam com nossas roupas sempre temáticas.

Levávamo-nos tão a sério que sempre acabávamos a noite completamente descabelados, cambaleantes ao som das canções da boy band que já foi moda, saudosos da excêntrica presença de Romário e capazes das atrocidades verbais menos coerentes que promessas políticas de esquerda radical. Aos olhos mais atentos, ao redor da mesa vermelha havia um bando de jovens em busca da oitava lagoa e da saideira.

Entre nós havia uma mulher que sustentava com toda a classe seu signo solar. Era taurina. Deu pra usar boina de repente e, constantemente, a perdíamos para o mundo paralelo da literatura. Assim, quando menos se esperava, a taurina não mais interagia, a não ser que fôssemos uma caneta ou um pedaço de papel. Às vezes, até podíamos ser. Seus devaneios iam parar no sítio virtual que conservava com esmero. Até hoje, creio que seu diário praticamente quimérico era mais popular que aquele novo Papa.

Num desses encontros, discutíamos sobre a utilidade pública que a atenção que seus rabiscos sem censura poderia adquirir. Foi então que a rapariga vaporosa, sempre cheia de comentários inúteis, porém coesos e à qual nem dávamos mais crédito, pois era fã da Madonna e não sambava em lugares públicos, falou mais alto: “Façamos um concurso literário entre os freqüentadores virtuais!”. Sua sugestão foi aceita com um carinho surpreendente e risadas com aquele ar de “pode ser, heim?”. Os prêmios seriam o troféu Zé Carioca, a publicação do texto no glamouroso sítio virtual e um chiclete Trident de canela.

Esticamos o assunto até as resoluções finais do edital. Os interessados mandariam seus textos para o e-mail ohgsuis@yahoo.com.br até o dia 11 de dezembro de 2006. Rod, polêmico criador de imagens engraçadinhas e talentosíssimas seria o responsável pela confecção do troféu que se chamaria Zé Carioca, em homenagem ao vizinho do saudoso Romário. Os juízes seriam: a taurina, claro; Paulita, uma das mentes mais brilhante da academia e um doce de mulher; a rapariga vaporosa que não samba, pois tinha que ser... afinal a idéia tinha sido dela. Na comissão julgadora ainda pairaria a estonteante participação especial do nosso enviado especial à Alemanha, Pedro Gomides, pois o talento é nato e a saudade é grande.

Já trôpegos, confabulamos ainda sobre o coquetel/baile dançante comemorativo que ofereceríamos aos participantes no Marcílio´s Ballroom, um dos lugares mais “phinos” da capital mineira da época. Seria uma noite inesquecível! E, pretensiosos como éramos, ainda convidaríamos o primeiro lugar para compartilhar nossa mesa no happy-hour nosso de cada terça-feira.

Mas o nível etílico era impiedoso e nos esquecemos de elaborar um tema pelo qual os literatos interessados fritariam seus miolos. No dia seguinte, com as cabeças latejantes, Taurina e a que não sambava resolveram a pendenga sob o seguinte raciocínio: “Vamos deixar quem sabe escrever falar por nós”, disse a garota que não colocava a mão no joelho e nem dava uma abaixadinha. Assim, o tema era:

“O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.”

Mal sabíamos nós, nessa época, que já havíamos reconhecido um no outro a ausência do inferno.


E a comissão julgadora declara aberta as inscrições para o primeiro concurso “Oh G Suis” de literatura virtual.


*texto daquela que nem abaixa e nem dá uma rodadinha ao som de zeca pagodinho.

12 comentários:

madá disse...

já me sinto inscrita.
sei que não vou ganhar, mas quero experimentar isso que chamam de 'escrever para o além'. brigada.

Anônimo disse...

Eu danço Zeca com muita elegância e parcimônia!

Anônimo disse...

RODO disse...
CONCURSO FANTÁSTICO!

Anônimo disse...

eu tenho medo de sapos e concursos.

mas nada contra assistir no cantinho...

Anônimo disse...

bom.. ninguém além da mocinha que não samba em qualquer lugar, não rebola, não faz embaixadinhas e não tem vergonha da faixa amarela na entrada da fevela, o rodo e sua esposa... ninguém mais me conhece...

mas sou entrona (a dona do vigoroso blog sabe disso) e também gostei do nome do concurso.. tb não vou ganhar.. mas quero ter o prazer de participar.. pq o importante é ter saúde.

é isso.. mariana

Anônimo disse...

uebaaaa!!!

tô super curiosa pra ver or resultados de tudo isso!!!
que delícia!
bjo bjo

Igor disse...

LAU!

Anônimo disse...

Huuum, me parece apetitoso!

Anônimo disse...

bom... acabo assitindo de camarote e bem acompanhado, sempre, né? fazer o que...
aeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee set' lagoas! rs beijo

paula r. disse...

já divulguei o praticamente famigerado concurso. vamos ver no que dá, não é?
beijos

Anônimo disse...

pensarei com carinho se algum devaneio tolo da minha mente perturbada se encaixa no dito tema para que eu tambeém de o ar da minha graça...

mas pelo menos na festa já me convido!
ahaahauh

beijos

Anônimo disse...

escrevi, mandei e fiz uma figa.
EU QUERO O TRIDENT DE CANELA!!!!