29.1.07

Face to Face (2006)

voltei pra belo horizonte e a vida não é mais a mesma.

ainda bem.

-_ um dos melhores vídeos que vi na 10a mostra de tiradentes.


(voltei com o título antigo do blog, é marca registrada).

19.1.07

carlos.

Aquela tensão o corroia por dentro.
Será que a agulha ia doer muito?!
Era preciso atravessar, ele sabia disso.

Sentiu o cheiro, fechou os olhos

e apertou a mão direita.

15.1.07

o lado esquerdo.

Um dia estranho, daqueles que não se consegue pensar o pensável. Talvez já se sentia velha demais. Pegou aquele livro que se encontrava na sua cabeceira, começou a lê-lo, mas o sono não veio. Respirou fundo e fechou os olhos. Estaria arrependida de alguma coisa? Não, não, mas sabia que havia chegado ao limite. Abriu lentamente os olhos e fixou o olhar naquela jaqueta branca pendurada na porta do seu armário: quantas lembranças. No entanto, não queria se lembrar de mais nada e desejou se tornar anônima, desejou ser esquecida. Por todos. Desejou ser esquecida por todos. Fechou os olhos novamente e imaginou uma cidade em que ninguém soubesse seu nome, ninguém soubesse de nada a seu respeito. Fantasiou varias situações e sabia que ele se sentaria naquele café. Afinal, aquela felicidade que ele procurava escancarar em todos os momentos, precisava de instantes de exílio.

Foi quando abriu os olhos e viu que o sol teimava em invadir o seu quarto através de lapsos das cortinas.

13.1.07

o tênis vermelho.

Ela não sabia praticamente nada. Andava assustada pelas ruas olhando para os lados. Era muito nova, sabia disso. Ate que um dia se esbarrou naquele corpo que se cobria com vestes pretas e apresentava suor na testa. Não disseram nada, apenas se olharam. Ela sabia. Ao continuar a caminhar, sentiu uma mão tocando a sua e, num impulso, juntou para si aquela mão delicada e tão feminina. Olhou para trás a fim de saber quem procurava lhe tocar, era ele. Ele sabia. Caminharam juntos durante horas. Foram muitos passos.

Anos se passaram, ela já sabia alguma coisa. Os passos que dava não eram mais ao lado dele, no entanto, seus pés, discretamente, às vezes, tentavam sair em busca daqueles outros pés, os pés dos tênis vermelhos. E lá estava ela, um dia de sol, muito sol. Encostada na parede, embaixo de uma tímida sombra, fumava um dos últimos cigarros do seu maço. Com o olhar perdido, tentava procurar algum sentido naquele céu imenso. Estava cansada de andar, muito cansada. Respirou fundo e se lembrou do moço dos tênis vermelhos. Por onde ele andaria?! Deu mais um trago e tentou se lembrar quantos anos havia se passado. Foi quando sentiu que uma pessoa acabara de sentar ao seu lado. Olhou com o canto do olho e sentiu seu coração explodir. Abaixou mais os olhos e não teve duvida, o tênis vermelho. Mordeu seus lábios e fechou os olhos: “teria ele se cansado de andar também?!”, pensou. E, com os olhos ainda fechados, se lembrou do dia em que se encontraram no cinema depois de terem se prometido nunca mais se tocarem. Ah! Os dois olhando para a telona enquanto suas mãos teimavam em se encontrar. O desejo que pulava, mordia. Abriu os olhos e continuou olhando para frente, fumando o cigarro. Ate que sentiu as mãos dele querendo tocá-la novamente, anos depois. Não disse nada, mas escutou ele dizendo baixinho:

- Estou cansado.

- Eu também.

- Andou muito?

- Demais e você?

- Imagino que o mesmo tanto, ou ate mais, que você.

- Você ainda usa seus tênis vermelhos?

- Você tinha um igual.

- Eu tenho.

Calaram-se. Ele acendeu um cigarro e depois de 3 tragos:

- Com quantos anos você está?

- 25. E você?

- 32.

- Entendo seu cansaço.
- Eu sei disso. Também entendo o seu. Está assim tem muito tempo?

- Não sei, na verdade. E você?

- Há quase 10 anos. Tem quanto tempo que não nos víamos?

- 9 anos e meio.

- Acho engraçado pensar que nunca pude te chamar de minha namorada.

- Não nos demos uma chance.

- Sei que contribui muito com isso, mas quem...

- Não comece a jogar na minha cara, você sabe que eu era nova demais.

-

- Não gostei de nenhuma namorada que você teve.

- Você não conheceu nenhuma, como pode falar isso?

- Olha pra você que vai me entender.

- Não, você está errada, não me cansei por causa delas, foi por mim mesmo.

- Eu também, me cansei por mim.

- A sua cama ainda é a mesma?

- Aham, e a sua?

- Também.

10.1.07

Fernanda.

Aquela porta de madeira antiga a convidava e o olhar daquela mulher admirava cada ferpa que insistia em se fazer presente. Abaixou seus pequeninos olhos e observou a maçaneta: estava toda empoeirada. Suas mãos se coçaram de vontade para se pousarem sob aquele chamariz de ferro e num instante de impulso, ela abriu aquela porta. Uma escada. Olhou para cima a fim de saber para onde aquele monumento de ferro a levaria, mas viu somente o preto. Pensou durante alguns minutos se subiria ou não e sentiu uma curiosidade lhe instigar, mas, ao mesmo tempo, um medo a invadiu. Colocou seu pé direito sob o primeiro degrau e sua mão esquerda sob o corrimão. Olhou mais uma vez para cima e respirou fundo, não adiantava mais querer voltar, ela tinha que subir. Foi subindo devagar e só se deparava com poeira e mais poeira. Depois de muitos degraus ela encontrou papéis espalhados, mas a escuridão intensa a impedia de ler o que estava escrito neles. Subiu mais um pouco e achou uma fresta que permitia a luz da rua entrar um pouco. Eram cartas, muitas cartas. Algumas não terminadas e outras apenas com uma frase, uma palavra. Umas mais amareladas que as outras, as datas eram de anos atrás, mas a letra era a mesma em todas; pareciam ser de um Manuel para uma Fernanda. Ela sentou-se, a curiosidade para saber o que estava escrito naquelas páginas amareladas a fez esquecer de toda poeira que pincelava aqueles degraus.

Fernanda,

Já passa das vinte e duas horas e estou aqui no meu quarto relembrando o seu sorriso, tentando resgatar em minha imaginação o suave do seu corpo. Foram tantos sonhos, tantas palavras ditas e reditas, tanto amor oferecido e recebido. Eu te amei muito e sei que, apesar de tudo, você me amou também. Não choro pelo amor que não existe mais, não choro por nada, não há porque derramar lágrimas. Só sinto saudades, saudades da sua voz na pontinha da minha orelha causando arrepios em meu corpo. Ah! Foi bom! Mas nada disso significa que ainda guardo uma vontade de tê-la comigo novamente. Não, não quero mais nada. Nem revê-la eu quero mais, prefiro ficar somente com as lembranças.

Um tenro beijo,

Manuel.
02/08/35


Fernanda,

Ontem fiquei te observando no baile! Ah! Como estava linda naquele vestido vermelho! Eu, ali, sentado timidamente admirei cada passo que dava. Era a mais bela de todas!

Um beijo,

Manuel
06/09/33




Fernanda,

Eu queria que soubesse que ...



Fernanda,

Será que um dia nossos olhares serão somente NOSSOS? Sei que me olha como te olho, por que fugir? Será que sabe meu nome?

Beijos,

Manuel
10/04/30



Começou a espirrar, sabia que sua alergia atacaria a qualquer momento. Eram muitas as cartas, não daria pra ler todas, embora a curiosidade fosse enorme. Mas ignorou seus espirros e pensou na hipótese daquelas cartas não terem sido enviadas e aquela escada ser uma espécie de tumulo do amor que Manuel sentiu por Fernanda. Quis recolher algumas para ler em casa, mas seria um desrespeito. No entanto, prometeu a si mesma voltar ali sempre que possível para ler tudo.
Os anos se passaram, ela já amava Manuel. Sonhava todas as noites com o autor daquelas belas cartas, era como se ele escrevesse para ela. O seu nome?!

6.1.07

cotidiano.

Eram cinco degraus. Ela subiu os quatro, agitada, e sentou no topo da escadinha. Ele subiu mais devagar. Estava nervoso.
- Você tem problema de pele?
- Eu? Por que?
- Cada vez que eu te olho tem uma sarda nova aí.
Ela olhou pra baixo. Frio nos pés. Daria a ponta dos cachos vermelhos por um chá de maçã com canela e uma meia mais grossa.
- Você não tinha compromisso?
- Não dá mais tempo.
Ele era novo. Mais do que ela. Tinham pulado etapas, disse, tentando se justificar sobre janeiro, quando a trocou por uma carioquinha de dois falsos olhos azuis.
- Ah, se eu soubesse. Teria feito tudo diferente.
- Não, não teria.
- Teria sim. Sinto saudades tuas. Não devia ter te deixado, foi a pior coisa que fiz na vida. Me perdoa?
- Não tem o que perdoar. Eu entendo.
- Mas diz que me perdoa, por favor.
Ela ergueu os olhos. Viu as luzes da praça, as ruas vazias, devia ser umas três da manhã. Se distraiu com o vento. Ele levantou, deu dois passos, voltou, sentou. Os olhos encheram de lágrimas.
- Eu ainda te amo.
- Eu também te amo.
- Volta pra mim?
Ela tentou não sentir pena do menino de joelhos ao seu lado.
- Tá frio, levanta.
- Volta pra mim? Escuta, eu ainda te amo. Nunca mais vou te deixar ir, nunca mais vou te magoar, eu aprendi a lição. Olha no meu olho, por favor. Eu preciso de você, do teu carinho, dos teus beijos, volta pra mim, por favor, eu não sei mais o que fazer.
Ela pensou antes de responder. Levantou.
- Eu vou te amar pra sempre.
As lágrimas vieram com violência pra ele. Agarrou o próprio rosto e chorou alto.
Ela pegou um taxi e foi morar na Novo México.
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l> de onde vem a calma - los hermanos
l>

1.1.07

o meu querer.

e que nossas loucuras se percam em nossos desejos.

- a melhor mensagem que eu recebi neste reveillon.

feliz 2007!