28.12.06

meu diario.

primeiro quero ressaltar que esse teclado esta desconfigurado e nao tem acento. ain! isso me irrita, mas enfim. passa.
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segundo, estou bem! ai! nunca precisei tanto de ferias como nos meus ultimos dias de capital mineira! agora ca estou na casinha de mamae, numa pequenina cidade que nao passa de 20 mil habitantes. como foi bom chegar! uma sensacao gostosa que nao sentia ha anos! meu quarto, minhas coisinhas, meus diarios (que fiz dos 7 aos 17 anos), minha colecao de torpelandias (porque sim, eu morro de saudades dele) e tudo o mais que me embala aqui.
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meu natal foi otimo! como todo ano, me encontrei com uma pessoinha por demais de especial e fizemos programinhas gostosos, daqueles que so a gente entende.
reveillon?! nunca me apeteceu. festa chata, na verdade. corre muito o risco de ficar em casa com papai e mamae.
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e ui! como foi otimo ter mudado o endereco do meu blog! agora escrevo sem pensar se tem alguem lendo ou nao. na verdade, creio que pouquissimas pessoas leem e isso ja me deixa muito feliz!
textos novos?! tenho mil ideias na cabeca, mas acho que vou ficar um tempo sem escrever, nao sei. vamos ver!
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no mais eh isso. to feliz, em paz. e que venha 2007!
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(ficou suuuuuuuper diario esse post, mas ah! ngm le mesmo!rs).
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l> haiti - the arcade fire.

22.12.06

perto demais.

- qual seria o meu eufemismo?
- hmmm... "ela era desconcertante".
- não é nenhum eufemismo.
- é sim.
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- por que veio pra cá?
- problemas com um cara.
- namorado?
- mais ou menos.
- e você o deixou na lata?
- é o único jeito: "eu não te amo mais. adeus".
- e se ainda amar?
- eu não ia embora.
- nunca deixou alguém que ainda amava?
- não.
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- por que empata a vida dela?
- você é crítica.
- você é infiel.
- eu não empato a vida dela. ela é completamente irresistível, completamente "inabandonável".
- e você não quer outro pondo as mãos nela.
-
- homem não presta.
- ainda assim..
- homem não presta.

(campainha)

- sua musa.
- você destruiu a minha vida.
- você se recupera.
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- estou esperando você.
- fazer o quê?
- me deixar.
- não vou te deixar. eu te amo. por que isso?
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-
- o quê?
- isso vai doer. eu estava com anna. me apaixonei por ela. estamos nos vendo há 1 ano.

-
-
- vou embora.
- lamento muito.
- é irrelevante. lamenta o quê?
- tudo.
- por que não contou antes?
- covardia.

(...)

- posso continuar te vendo?
- não posso. se te ver, nunca vou te deixar.
- e se eu achar outro?
- vou ficar com ciúmes.
- você ainda gosta de mim?
- é claro.
- está mentindo. já estive no seu lugar.
-
- me abraça?

(...)

- você me amou?
- sempre vou te amar. odeio te magoar.
- e por que está magoando?
- porque sou egoísta. acho que vou ser mais feliz com ela.
- não vai. vai sentir a minha falta. ninguém vai te amar como eu. porque o amor não basta? sou eu quem sempre termina. eu é quem devia te deixar.
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-
- você está cometendo o maior erro da sua vida. está me deixando porque não acha que merece ser feliz. mas merece.
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- eu te amo. amo tudo em você que dói.
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- você ficou com outra.
- o que isso justifica?
- nada.
- só quero a verdade.
- por quê?
- porque sou viciado nisso. confie em mim.

(...)

- eu não te amo mais.
- desde quando?
- agora.
-
- não quero mentir e não posso contar a verdade, então está tudo acabado.
- não importa. eu te amo. nada disso importa.
- tarde demais.
-
- eu não te amo mais. adeus.

Did I say that I loathe you? Did I say that I want to leave it all behind?

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trechos do filme "closer".

20.12.06

algo.

18h30. aquela chuva não parava, o coração daquela pequena menina palpitava de ansiedade. em meio àquele aguaceiro ela atravessou a rua; seus pés molhados. olhava para todas as pessoas que por ela passavam, não, nenhuma era ele. até que chegou, subiu as escadas e ao olhar para sua direita viu aquele chapéu, aquele cigarro, aquelas mãos que tremiam. sentou-se e riu, parecia pecado acreditar naquilo. lapidando o olhar daquele homem ela se perguntava qual seria o gosto da sua boca. e em meio à risadas, lembranças, ele pediu um beijo. ela hesitou. escutou ao fundo o dedilhar de um piano e olhou para a boca. dele. a distância de um maço de cigarro. o beijo. o deliciar do beijo. sabiam que depois dali não seriam mais os mesmos. a trepidação da usina de sentidos, o gozar, o querer, o arranhar singelo. filmes, cinema, muito cinema! e ele fechava os olhos e falava e falava. falava com a ânsia de se querer entendido, enquanto, com a calma do seu olhar, aquela menina tão pequenina o observava, o tocava, sentia. quantas pintas teriam pelo seu corpo? ele perguntou. a pinta solitária nas costas da mão direita. e o esmalte vermelho, a pulseira vermelha. ele a olhava, a pincelava com os olhos, seria um pintor o espectador daquela cena? nada mais existia, só o estalar dos toques.
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quanta doçura...
quanta ternura...
quanta tristeza...

19.12.06

um, dois, três.

no criado-mudo, um bilhete:
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são quase duas horas da manhã e eu não consigo dormir, deve ser porque hoje acordei às três da tarde, mas enfim. acabei de ver uma foto sua e me lembrei que esta semana faz um ano. será que você se lembra?! não, né?! óbvio que não! mas eu me lembro. você era a amarela e eu, o homem amarelo. você dormindo na minha cama enquanto eu lia o livro que me emprestou, aquela cena. confesso que sabia que só seria aquele dia, senti. tanto que depois desse dia fui revê-la meses depois, nem parecia a mesma. no entanto, quando você pegou na minha mão há duas semanas, eu sabia que. sabia.
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mas agora estou aqui, sem conseguir dormir.

17.12.06

porque era ela, porque era eu.

dedilho o branco querer da sua coxa esquerda. queria poder morder seus sonhos. mas as cartas não existem mais, isso eu sei.

- oi, tá tudo bem com você?
- anh? quem é?
-
-
- alô? alguém?
- e se a gente não amasse mais e esquecesse de tudo?
- a gente poderia jantar com menos pressa, eu acho.
- é... eu sei.
- sabe?
- sei e você?
- não, às vezes demoro horas jantando.
- hmmm...
- você sabe cozinhar ainda?
- cozinhar? er...
- esqueceu?
- eu não janto mais.
- por quê?
- não tenho fome.
-
-
- às vezes eu acho que...
- que...
- você nunca deveria ter me oferecido.
- o quê?
-
- hein?!
- é, não ofereceu.
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são dez horas da manhã. você ainda ronca.

a máxima.

Tentei fingir, ignorar, tinha como? Lá estava você, olhares vagos, sorrisos amarelos, e eu numa dor que só, provoquei. Erros, acertos? Se é assim que se diz, é, eu fiz, uma baita cagada! Eu tava pedindo desculpa pra manter algo que não sei ao certo. Ficou na dúvida no "tudo bem". E como eu ia indagar isso? Se foi você mesmo quem diz, eu que tive que concordar. Deixando claro, de fato, que a 'concordância' não era válida para mim. Eu quis barraco. Chorar e rir, no fim. Se é de altos e baixos e fins que se escreve um grande amor? 'Eu procurei, quando não quis' pra cagar, errar, sentir meu estômago embrulhando, e depois, com a boca mais seca que qualquer embriagez e com as mãos tremendo, chegar a máxima; a desculpa. Ou foi uma explicação? Cheio de bla, bla, bla. Então? 'Tá de boa' - com o braço no meu ombro. 'Quase tudo o quanto fosse natural'. Se eu deixei confuso, pelo menos isso foi proprosital. A cabeça, se eu tenho uma, tá em estado de paralisia. Pensar, pensar, pensar, num só nome, num só sorriso, num só beijo, num só abraço, numa grande perda.
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16.12.06

ah! teodora maria!

Teodora Maria não é uma boa pessoa. Não consegue nem chorar lágrimas cristalinas.
Embora esteja triste que só vendo! Teodora Maria não presta. Não respeita. Não se respeita.Teodora Maria é também um pouco mais triste hoje. Acredita um pouco menos no mundo e tem uma pedra no peito. Teodora Maria não pensa para agir. Sai machucando pessoas. E quem mais se machuca é ela mesma.Teodora Maria detesta incertezas. Não vive bem com elas. Por isso vive colocando o carro na frente dos bois.Sonha demais. É racional de menos. Teodora Maria entregou suas fantasias. Voltou ao mundo real. Sórdido. Como ela. Deu seu último suspiro. Logo ela que achava que só o suspiro valia a pena. Ela que sonhou tanto e agora espera tão pouco. É uma viciada essa Teodora Maria. Não se entende consigo. E Teodora Maria foge. Caminha. Toma chuva. Se entrega. Teodora Maria é uma passional. Ela esquenta. Depois esfria. Ah! Teodora Maria! De que adiantou fugir? Do que fugia Teodora Maria?
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Agora sofre. Agora chora. Agora afunda.
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[Agora morre Teodora Maria. Busca os restos de ti. Será mais difícil que achar uma agulha no palheiro.]
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e ontem zeca cantou "joão e maria" (em homenagem ao sivuca que faleceu ontem) e autografou meu maço de cigarro.
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eu agradeço.

15.12.06

um ano depois.



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é mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro.
quero no escuro como um cego tatear estrelas distraídas.
amoras silvestres no passeio público.
amores secretos debaixo dos guarda-chuvas.
não creio em santos e poetas
perguntei tanto e ninguém nunca respondeu.
melhor é dar razão a quem perdoa
melhor é dar perdão a quem perdeu.

acorda, maria bonita!

outra coisa, acho que fica lindo Maria Bonita..não só Maria....Maria é mais clássico. Tem ternura, é mágico. Remete sertões, remete humildade com mistura folclórica. Pessoa bem quista, digo mais, pessoa super requisitada e disputada por nós homens do agreste. Maria bonita de vestidos compridos. Flores? Sim, porque não... Rosa claro... bem clarinho. Ah, sim, de alcinha, por favor. Usa rasteirinhas, construídas pelas mãos ásperas e todas feridas de seu velho pai. É de uma cidade calma, mas não herdou essa calmaria genética . Chamam-na de bonita, desejam a Maria. Ora sua gostosura, ora seus dons de uma prendada doméstica. Sem sultian, bicos a provocar. Tem uma pinta! E adora ler clássicos para os graciosos sobrinhos. Escreve à luz de lamparina às escondidas nas madrugadas em seu velho casebre. Escreve seus segredos mais íntimos, suas fantasias ousadas e como deseja vários homens e mulheres daquele vilarejo pacato. Sonha em ser grande, mas não tão grande assim, pois não quer nada demais, somente um marido...

Cóssimo Freitas.

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é porque, às vezes, parece que ainda alguém entende.

l> balada do asfalto - zeca baleiro
(show hoje!)

14.12.06

resultado do "oh g suis"

Primeiramente gostaríamos de nos desculpar pela demora na divulgação do resultado do Primeiro Concurso "Oh G Suis" de Literatura Virtual. Nosso atraso foi devido às vidas conturbadas e agendas lotadas dos integrantes da comissão julgadora.
Bom, recebemos vários textos, alguns mandaram até mais de um texto e foi difícil escolher, dentre todos, apenas um. Mas esprememos, esprememos e cá está:
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Agora, vejam o porquê:
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Se se fosse produzir um filme abre parênteses filme não, né? Sim, cinema é lindo, mas fazer um filme, não sei, é muito distante. Façamos um vídeo, porque vídeo é gueto, vídeo é universo em exploração, e, acima de tudo, vídeo é fragmento, e fragmentos são belos fecha parênteses Se se fosse produzir um vídeo, transformar imagem da vida extra-oficialmente produzida para ser assistida em imagem da vida oficialmente produzida para ser assistida, teria que ser tudo em super-oito; super-oito para tentar dar conta desses elementos clichês que permeiam um fato inédito, para passar a sensação de coisa que já foi e que na verdade nunca foi, mas pela qual já há o sentimento de falta, algo que incomoda (ainda que nunca) abre parênteses imagem de super-oito ou de câmera de celular? Há tanta poesia nestas últimas, na maioria das vezes precárias, feitas ali, no imprevisto, do imprevisto e para o imprevisto. A câmera de celular revoluciona porque aumenta a quantidade de imagens e, paradoxalmente, as singulariza. É o seu olhar, é a sua mão, é o seu recorte. Além de tudo, há um ar de documento, um ar de guardado, algo que escapa do puramente digital fecha parênteses Como filmar o inferno? Ou melhor, como retratar o inferno? Pensemos: como sair desse clichê cheio de extremos, de inferno ser o total calor ou o total frio, o completo isolamento ou a multidão infinita, o cheio ou o vazio? Paira no ar esse gosto de renovação, essas vontades de novo. Inferno são as pequenas coisas. Inferno são pequenas coisas geradas por pessoas, pequenas ou não abre parênteses analogias imbecis sempre ajudam raciocínios que tornar-se-ão grandiosos; portanto, vamos lá: o inferno é a sociedade do espetáculo. De acordo com alguns autores, para escapar do espetáculo é preciso inserir-se nele e dele emergir, pois permanecer na margem simplesmente não funciona. É preciso emergir do espetáculo e sumir antes de ser engolido por ele. Algo como as TAZ, de Hakim Bey. Mais um ponto para o vídeo. Vídeo é naturalmente escape, é o outro lado, é onde tudo se pensa fecha parênteses não pode-se cair em outra frase feita, 'o inferno são os outros'. Passar por Sartre superficialmente pode ser perigoso. Mas enfim, o inferno são os outros e eu, assim como você, sou o outro, logo, o inferno sou eu. Um vídeo de si mesmo. Não. Aqui não interessa a imagem do inferno. Não é esse o caminho mais fácil? Fácil nunca foi atraente. Fácil deixa pulga atrás da orelha e sensação de 'qualquer um pode'. Ninguém quer filmar qualquer um. O homem ordinário só é filmado quando cria um dispositivo que o permite colocar sobre si um holofote e ser alguma coisa. Gostoso mesmo é quando as coisas são verbalizadas, quando sentimento vira palavra - escrita, falada ou filmada -, quando não há medo da exposição nem da nostalgia da super-oito ou da imagem de celular, tão bela e tão imbecil, e que parece traduzir a impossibilidade de tradução. É preciso subverter a ordem do inferno, agenciar essa coisa que vem de dentro e está ao redor. Sim, é claro que se quer o caminho mais complexo: é preciso reconhecer, dentre todas as imagens existentes, a que não é inferno abre parênteses fica decidido que, se se fosse produzir o vídeo, este seria feito com câmera de celular; a super-oito chamaria muita atenção. O celular vai aqui funcionar de forma simples, e que, apesar de extremamente invasiva, passa praticamente despercebida na sociedade contemporânea: um sistema de vigilância, uma busca permanente por captar o que normalmente passa despercebido - ao menos neste contexto. Afinal, se o inferno é a sociedade do espetáculo e o que não é inferno é uma zona autônoma temporária, esta logo de esvairá, assim que identificada. Ela nunca pode ser mapeada, afinal de contas fecha parênteses o que não é inferno? Inferno são pessoas, é fato, mas são as pessoas a alternativa ao inferno; por conseguinte, o que não é inferno é pessoa. Questão de lógica. Só que a lógica não rege a contemporaneidade; vivemos as regras da sedução. Seriam então pessoas provisórias, pessoas de passagem? Pessoas que questionam, talvez. Seduzem e questionam, porque fazer o apenas o primeiro é fácil. Fazer o primeiro é aceitar o inferno e simplesmente abstrair. Só é possível registrar a imagem do que não é inferno com um ar nostálgico, porque o que não é inferno é o que não se pode efetivamente apreender. Ar de fragmento de sentimento. Sim, o que não é inferno é o simples: é o olhar, é o arrepiar da pele, é o cheiro de pipoca, é a sensação de ver o outro gozar. É o que passa, que não pode ser nominado, que não é passível de armazenamento. Enfim, o que não é inferno nunca poderá ser filmado, nem no cinema, nem com super-oito; nem com vídeo nem com imagens de câmera de celular. Ainda há o medo de escuro, é fato, mas a vida às vezes se mostra inegavelmente mais azul. Há o escape, há o azul e há a subversão. O que não é inferno tilinta na obscuridade, e é preciso esforço enorme para identificá-lo. Guardá-lo não, nunca. A beleza do que não é inferno passa por sua brevidade e por sua não linearidade, irregularidade que incita. O que não é inferno? É o que emerge dele e depois some. Preste atenção: apesar da inconstância, é possível mapear o dispositivo inferno e desenhar sua cartografia. E as linhas de ruptura sempre são as mais interessantes, porque podem ser o que não é inferno – podem ser abre parênteses talvez o que não é inferno seja a frase que simplesmente escapole, seja ela escrita, falada, filmada. Pode ser também palavra desenhada, por que não? Mas essa eu ainda estou aprendendo a ler fecha parênteses Constatação provisória - se é que existe alguma permanente; há tempos me disseram para parar de procurar axiomas: é na imbecilidade sincera que o pontinho azul surge em meio ao inferno, que, se se fizesse um vídeo, seria branco: um branco que estoura, clichê como deve ser. o inferno é clichê.

05 de dezembro de 2006 (nunca date seus escritos)

Nota: este texto não tem título porque este texto não é um texto: é um fragmento.

13.12.06

que.

e só acho (só acho) que poderia ter mordido mais a tua boca, aquele teu lábio que.

(...)

eu só acho (só acho) que queria ter rasgado um pedaço daquela sua camiseta preta.

...

e até que fico feliz por isso, ou não. não sei. enfim. whatever.

morde a saia.

às vezes me dá um aperto no coração e uma sensação de que, realmente, nada é pra sempre.

cinco e quarenta e três da manhã.

Adeus você
Eu hoje vou pro lado de lá
Eu tô levando tudo de mim
Que é pra não ter razão pra chorar
Vê se te alimenta
E não pensa que eu fui por não te amar

Cuida do teu
Pra que ninguém te jogue no chão
Procure dividir-se em alguém
Procure-me em qualquer confusão
Levanta e te sustenta
E não pensa que eu fui por não te amar

Quero ver você maior, meu bem
Pra que minha vida siga adiante

Adeus você
Não venha mais me negacear
Teu choro não me faz desistir
Teu riso não me faz reclinar
Acalma essa tormenta
E se agüenta, que eu vou pro meu lugar

É bom...
Às vezes se perder
Sem ter porque
Sem ter razão
É um dom...
Saber envaidecer
Por si
Saber mudar de tom

Quero não saber de cor, também
Pra que minha vida siga adiante

--

o resultado sairá! aguardem!



11.12.06

– Que horas são?
– Dez e trinta e cinco.
– Sim, é isso. Vou desligar, então. Boa noite.
– Boa noite.

*
–Pronto?
– Quem fala?
– Sou eu, não reconhece minha voz?
– Não. Estranho, parece que não te ouço há muito tempo.
– Você é engraçada.
– Por que?
– Deixa. O que você quer agora?
– Agora? Bem, te liguei porque... Não sei. Acho que senti saudades. Há quanto tempo não nos vemos?
– Não posso dizer.
– Por que não? Você quer que eu desligue, é isso?
– Não, não é. Não posso dizer... o que eu teria para te dizer?
– Talvez responder a minha pergunta.
– E qual foi? Há quanto tempo nos falamos?
– Não, não foi isso, acho.
– Sim, não foi. Enfim, o que você quer agora?


– Vou desligar, desculpe o incômodo.
– Não foi incômodo. Simplesmente eu não consigo...
– O que?
– Me lembrar.
– Tudo bem. Que horas são?
– Dez e quarenta.
– Sim, vou desligar então. Boa noite.
– Boa noite.

*
– Alô?
– Lembrei.
– O que?
– E se todos perdessem o medo de esquecer?
– Esquecer o que?
– Esquecer tudo.
– Por que você me perguntou isso?
– Você, há tempos, acho, você me fez uma pergunta.
– Há tempos? Estranho...
– O que é estranho?
– Quantas horas são?
– Ah, desculpe querida, desculpe. Isso é realmente estranho.
– O que?
– São quinze para meia noite. Eu entendo que você ache estranho. Desculpe.
– Desculpá-lo? Não, não foi isso que achei estranho.
– Não?
– Não. Não sei... tenho a impressão de que nos falamos agora...
– Agora?
– Há poucos minutos.
– Quando?
– Não me lembro. Você me ligou agora... o que foi que te perguntei há tempos?
– Não me lembro. Só sei que me fez pensar isso.
– Isso o que?
– Esqueça. Vamos dormir.
– Tudo bem, boa noite.
– Sinto saudades.
– Eu também. Boa noite.

*

“Querido, escrevo angustiada. Creio que algo muito estranho está me acontecendo. E acho que também ocorre o mesmo com outros. O que me ocorrerá em breve? Escrever agora é um modo de resistência. Mas sinto que logo não serei mais capaz de realizá-lo. Não posso te contar o que houve. Me sinto estranha, não consigo saber de nada. Se eu me lembrar te ligarei mais tarde. Se você se lembrar, me ligue à noite, por favor.Obrigada.”

*
– Pronto?
– À tarde encontrei um homem...
– Quem?
– Era barbudo, cabelos claros, magro, alto.
– Quem era?
– Não importa. Ele me parou às 13 horas. Sei porque havia um relógio digital do outro lado da rua.
– O que houve? Por que aquele bilhete?
– Qual bilhete?
– Meu Deus!? Qual bilhete?!
– É, qual?
– Encontrei um bilhete na porta da minha casa hoje, achei que fosse sua letra.
– Espere, não me interrompa! Preciso falar daquele homem.
– Por que?
– Não sei porque. Ele me parou na rua, disse algo que não entendi, então eu me virei e:
eu –Perdão?
ele – Desculpe, acho que me enganei de pessoa. Achei você parecida com uma amiga. Como você se chama?
eu – Sinto muito, estou com pressa.
– O que de mais há nesse diálogo?
– Eu não me lembrei.
– Do que?
– Não sei, o rosto dele não era absolutamente estranho. Você vê, eu inclusive o descrevi, não foi mesmo?
– Genericamente.
– Como o descrevi?
– Ora, eu não me lembro. Aliás, não estou conseguindo acompanhar mais nada. Ando muito cansado.

– Você se chateou de não se lembrar do homem? Foi isso?
– Não. Acho que depois me lembrei dele. Do rosto. E do cheiro. Bom, porque você está cansado?
– Tive um dia difícil, andei o dia todo para muitos lugares.
– Onde você foi?
– Ah, não vale a pena contar. Contas, pagamentos, compras, consertos, bobagns necessárias...
– Para perdermos tempo...
– Ou a memória. Amanhã nos falamos, tudo bem? Então você me fala mais sobre o homem.
– O que estava escrito no bilhete?
– Qual?
– O que você encontrou na sua casa.
– Deixa, já é tarde. Boa noite.
– Boa noite.

*

– Alô... o que foi?
– Você me disse que encontrou um homem ontem...
– Hoje, encontrei hoje.
– É, estou confuso, já é tarde.
– Sim, mas e daí?
– Estranho, tive a impressão de ter te visto hoje. Mas quando cheguei perto, não era você.
– E daí?
– Não sei... precisamos nos ver.
– Agora?– Não, não agora. Quando você puder.
– Ai... desculpe... ando tão ocupada...
– Eu também. Bom, vamos dormir.
– Vamos.
– Queria saber uma coisa.
– Pode perguntar.
– Você se lembra de mim?
– Querido, também sinto saudades. Vamos dormir agora, boa noite.

*

– Porque o telefone estava ocupado?
– Minha irmã. Acabou de me ligar.
– Ela está bem?
– Reclamou que eu não ligo.
– E você liga?
– Não. Na verdade só falo com você, atualmente.
– Como estão as coisas hoje?
– Melhores. Dormi bem.
– Curioso. Eu também me sinto bem hoje.
– Que bom. O que você queria me dizer com aquele bilhete que deixou aqui na portaria?
– Qual?
– Não foi você?
– Como é o bilhete?
– “O que acontecerá conosco quando esquecermos tudo?”
Não foi você que escreveu?
– Não.
– Você está mentindo. Vi pela janela quando você entrou no prédio. Vi também quando saiu.
– É verdade. Eu estive aí hoje.
– E porque não entrou?
– Que horas eram?
– Não sei. À tarde. Eu gritei seu nome, mas acho que você não escutou.
– Não, provavelmente. Não me lembro de ter escutado meu nome.
– E porque esse bilhete?
– O que estava escrito?
– “O que acontecerá conosco quando esquecermos tudo?”
– Tem a minha letra?
– Sim.
– Então fui eu que escrevi. Vem aqui em casa por favor?
– Você sabe que não posso.
– Por favor.
– Estou indo, mas não vou demorar.

*

– Onde você está?
– No trânsito.
– No ônibus?
– Não, peguei um táxi.
– Que demora!
– O taxista não sabe chegar.
– São quase duas da manhã. Você disse “trânsito”?
– Não sei o que está acontecendo. Acho que as pessoas estão voltando pra casa.
– Ou esqueceram de como se volta. Bem, você está longe?
– Não sei, estou perdida, estou com sono.
– Como vai fazer?
– Olha, estou irritada, não queria ter saído de casa. O que estou fazendo aqui? Amanhã tenho que trabalhar. Ainda não estou muito longe, vou voltar.
– Me liga quando chegar em casa.

*

–Porque você não ligou ontem?
– Você está irritado? Desculpe, querido! Juro que não foi por mal. Porque eu deveria ter te ligado?
– Não sei! Mas você sempre liga! Não sei. Você não vinha aqui em casa?
– Nós combinamos?
– Acho que sim.
– Me dá seu endereço que vou no final de semana.
– Meu endereço?
– É.
– Para quê? Você sabe chegar aqui.
– Mas não sei o endereço...
– É por isso que ontem...
– O que?
– Bem, você...

– Deixa pra lá.


– Que dia é hoje?
– Sexta. Amanhã. Amanhã vou ficar em casa o dia todo.
– Vou te visitar então.
– Quer o endereço?
– Pode deixar eu tenho.
– Você parece preocupado...
– Talvez seja cansaço, ou saudade.

*

– Pronto?
– Porque você não veio ainda?
– Imprevistos.
– Como?
– Pessoas vieram me ver.
– Quais?
– Acho que estou doente.
– O que você tem?
– Não consigo me lembrar das coisas.
– Se você percebe isso, talvez não esteja doente.
– E você? Você se lembra?
– Do que?
– Das coisas.
– Quais coisas? Claro que me lembro!
– Então me conte uma lembrança.
– De quando?
– Qualquer data, não importa. Mas conte, conte algo, um relato. Por favor.
– Um dia...

– Encontrei na rua dois amigos nossos. Você não estava comigo. Era perto da sua casa.


– E então?
– Não consigo saber. Era um casal de amigos nosso. Talvez... Não, não eram eles. Ela, Omo ela era? Acho que era ruiva. Acho que estava de vestido lilás. E ele vestia um paletó azul piscina. Depois nos encontramos com você. Lembra?
– Não.
– Nós nos encontramos na rua e fomos te fazer uma visita.
– Quando foi isso?
– Nós chegamos e achamos que você estava brincando conosco. Ou estava drogado.
– Por que?
– Você não nos reconheceu.
– Já não nos víamos há muito tempo?
– Não sei, não me lembro.
– Também não. Quando foi isso?

– Quando?
– Hoje à tarde.

*

– Alô?
– Você, quando veio aqui a última vez?
– Não sei. Semana passada?
– Senti seu cheiro na minha blusa de frio. Não pode ter sido semana passada. Retirei as roupas do varal ontem.
– Talvez você use o mesmo amaciante que eu.
– Não. Era seu cheiro. Tenho certeza.
– Por que?
– Porque senti amarelo em tudo. E uma dor, uma dor fria no meio da barriga.
– E isso é o meu cheiro?
– Não. É a memória que seu cheiro me traz.
– Qual memória?
– De termos nos esquecido.

*

– Pronto?
– Alô!
– Sim.
– De que número fala?
– Com quem você quer falar?
– Desculpe, vi seu número na minha bina, não o reconheci. Esperava reconhecer a voz.
– E reconheceu?
– Não. Deve ter havido um engano, desculpe.
– Eu também não me recordo da sua voz. E, para ser sincero, não me lembro de ter usado o telefone hoje. Que horas são?
– Dez e trinta e cinco.
– Sim, é isso. Vou desligar então. Boa noite.
– Boa noite.

Alice Bicalho.

10.12.06

primeiro concurso 'oh g suis' de literatura virtual.

ATENÇÃO!!

caros visitantes,

hoje é o último dia para enviarem seus textos para o concurso.
o resultado vamos divulgar quarta-feira.

*lembrando:

e-mail: ohgsuis@yahoo.com.br
o tema:

"O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço."

!pode ser poesia, conto, enfim o que quiser.

8.12.06

musa brejeira.


eu faltando poucos minutos para o show do chico, o chico... aquele lá, o buarque. brigada, céus.

o cantar diadorim.

Tudo turbilindo. Esperei o que vinha dele. De um aceso, de mim eu sabia: o que compunha minha opinião era que eu, às loucas, gostasse de Diadorim, e também, recesso dum modo, a raiva incerta, por ponto de não ser possível dele gostar como queria, no honrado e no final. Ouvido meu retorcia a voz dele. Que mesmo, no fim de tanta exaltação, meu amor inchou, de empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, beijar, as muitas demais vezes, sempre. (...) Há-de que eu certo não regulasse, ôxe? Não sei, não sei. Não devia estar relembrando isto, contando assim o sombrio das coisas. Lenga-lenga! Não devia de. O senhor é de fora, meu amigo mas estranho. Mas, talvez por isto mesmo. Falar com o estranho assim, que bem ouve e logo longe se vai embora, é um segundo proveito: faz do jeito que eu falasse mais mesmo comigo. Mire veja: o que é ruim, dentro da gente, a gente perverte sempre por arredar mais de si. Para isso é que o muito se fala?

Grande Sertão: Veredas, p. 33.

Diadorim é sonho meu; e esse não encontrar Diadorim, às vezes, dá um aperto no coração que tira até o ar. Aí é o refúgio nas idéias que a vida, secretamente, me dá. Amor demais no coração é o que tenho aqui comigo. E um colo pra aconchegar a tristeza de Diadorim. Ele que um dia vai me encontrar andando por aí, vai chegar pertinho, sem fazer alarde. Diadorim é pureza e sentimento bonito que por si só se basta. Confesso que, às vezes, dá canseira esperar demais. E é nessas horas que penso que vou ficar sozinha mesmo. Se isso dói?! De supetão sim, mas depois eu sinto que até que gosto um tanto de ficar sozinha. No acalanto sublime. E, na verdade, não é bem sozinha que vou estar. Eu gozo com as falas de Riobaldo, elas me embalam. Mas nem por isso deixo de sonhar com o carinho de Diadorim; acho que a gente corre o risco de ser feliz um tanto grande.

7.12.06

Marque com X

Durante muito tempo acreditei que o que me fazia amar um homem era a inteligência. Ficava enfeitiçada com citações, elucubrações e teses. Mas não era. De nada adianta um perito em física nuclear, se ele não rir das pequenas besteiras que faz, se não souber aproveitar um sábado quente simplesmente não fazendo nada (e curtindo o ócio), se virar um psicopata quando alguém o fecha no trânsito. Então saquei: bom humor era o que mais me atraía.
Sempre achei delicioso estar com alguém que não vê o mundo como uma grande e monstruosa boca cheia de dentes prestes a mastigá-lo, que vive sem arrastar correntes, faz de tudo uma possível piada. Só que nem tudo é uma piada e, em certas horas, tudo o que quero é alguém que me escute e diga algo que me conforte a alma. E, nesses momentos, o pior que pode acontecer é ser levada na piada - existe uma grande diferença entre alegria de viver e recusa a sair da infância. Pois é, não era bom humor o que me fazia amar alguém: era, antes, sensibilidade.
Telefonemas de bom-dia, atenção a informações aparentemente banais mas que dizem muito a meu respeito, não ficar azedo e arredio por causa das minhas pequenas (ou grandes) oscilações de humor - tudo o que eu podia querer. Quase tudo. Tenho personalidade forte e só sobrevive ao meu lado um homem que grite comigo quando eu passar dos limites do bom senso, demonstre desagrado quando eu exigir demais e oferecer de menos. Preciso ser cuidada, mas tenho que sentir que quem está comigo é um homem de verdade e não um principezinho criado pela avó. Quero ser domada, tomada. Mais uma vez minha certeza caiu por terra: nem inteligência, bom humor ou sensibilidade eram o que me fazia amar alguém. Era - isso, sim - virilidade.
Mal abrir a porta da sala e ser consumida por beijos. Ter a roupa arrancada no caminho da cozinha, ser jogada na mesa de jantar sem tempo pra pensar no que está acontecendo, só sentir e saber o tesão incontido daquele homem por mim. Ser desejada com urgência e paixão é um dos maiores elogios que uma mulher pode receber, mas só ser desejada de nada adianta, pelo menos não depois da décima trepada monumental: quando acaba o suadouro, o que resta? Se pouco importa o saldo, o que interessa mesmo é a movimentação, então estamos feitos. Mas, se existe a possibilidade de ser esmagada pelo vazio de sentido após o orgasmo, de nada vale. Pelo menos se não vier acompanhada de carinho. Taí: pensei, então, que carinho era a pedra fundamental pra despertar meu amor.
Mas logo descobri que não era. Carinho é um sentimento abrangente demais: nos invade desde a visão de um cachorro abandonado até a palavra confortadora para alguém que pouco nos importa mas a quem também não queremos mal. Não bastava, era muito pouco. Daí constatei que o essencial para que eu amasse alguém era notar no outro a vontade de ficar, o desejo de estar comigo. Constatei coisas demais e fiquei paralisada diante do ideal que havia criado: absurdo e fictício.
Hoje, enfim, aprendi que toda enumeração é uma estupidez e qualquer tipo de formulário emocional, uma passagem sem escalas pra frustração. Claro que gosto de homens cultos, atenciosos, interessantes, divertidos e viris - seria mentira negar. Mas a verdade é que, para que eu ame alguém, basta que eu ame alguém. Porque, quando se precisa justificar o amor, é porque ele não existe. Simples assim.
Ailin Aleixo.

6.12.06

reticências.

"O senhor... Mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Isso que me alegra, montão”. Grande Sertão: Veredas, p.21.

O mudar, o desembolar, o transformar. O engolir por um segundo e depois nem saber mais qual o gosto. A pensação tomada por palimpsestos incorrigíveis que se deliciam e que recobrem, descobrem. O não saber falar, o querer entender o sem sentido, o não sentido. O buscar palavras, o inventar palavras. O olhar perdido procurando já não se sabe mais o quê. O que era, o que foi, o que não vai ser. O que será. (Será?). A vivência do ser no momento mais profundo e mais íntimo de estar. O planejar invisível. Os sonhos que são sonhados, apenas sonhados. Sonhados durante segundos que se calam com o abrir (ou fechar) da porta. A porta que limita o limite do ir-sendo. Do querer-ser. Do ser. Os critérios de relevância, as experiências, o acumular pequenos pedaços de vida(s). A usina de sentidos que borbulha, escorre, impregna e salta. O mastigar de passos que apagam, rasgam e renovam durante o calar mais singelo que, no entanto, berra e toma por si a sutileza que escancara. Os olhos que já não mais têm aquele brilho de ontem, o desfazer o feito e perceber o não feito. A voz que ficou mais aguda, muda. O tentar ser melhor e se bagunçar na querência do ser. A lágrima que escorre queimando e que depois se vira, apetitosamente, seca. O deliciar que se pode permitir uma segunda chance. O acreditar que as pessoas tropeçam, mas que podem se levantar e trocar de roupa. A gente gargalha, se espanta, chora e observa. Os dias todos, inteiros. O mudar, o desembolar, o transformar.

O mudar, o desembolar, o transformar. O segundo por um engolir e o gosto que nem quer saber qual o depois. Palimpsestos incorrigíveis tomados por pensações que se deliciam e que recobrem, descobrem. O não saber entender, o querer falar o sem sentido, o não sentido. O inventar palavras, o buscar palavras. O procurar perdido olhando já não se sabe mais o quê. O que não era, o que não foi, o que vai ser. O que não será. (ou Será?). A vivência de estar no momento mais profundo e mais íntimo do ser. O invisível toque do planejar. Os sonhos que são sonhados, sempre sonhados. Sonhados durante horas de segundos que se abrem com o falar (ou calar) da porta. A porta que limita o não limite do ir-sendo e ser. Do querer-ser. A relevância dos critérios, as experiências, o distribuir grandes pedaços de vida(s). O sentido da usina que borbulha, escorre, impregna e salta. O cuspir passos que apagam, rasgam e renovam durante o cantar mais singelo que, no entanto, sussurra e toma por si o escancarar sutil. O brilho que já não mais pertence àquele olhar de ontem, o fazer o desfeito e ignorar o não feito. A voz que ficou mais muda, aguda. O tentar ser pior e se bagunçar na querência do não ser. O virar que escorre queimando e que depois se chora, apetitosamente, seco. A chance que pode permitir um segundo deliciar. O acreditar que as pessoas trocam de roupa e, por isso, tropeçam. A gente chora e observa; gargalha e se espanta. Os dias inteiros, todos. O mudar, o desembolar, o transformar.

01h22.
05/12/06.

4.12.06

o ser não ser.

sou o respingo dos instantes,
o saltar dos passos,
o engolir dos abraços,
a intensidade dos olhares,
o rasgar das cartas,
o relar dos sonhos.
sou um não sentido sentindo.
sempre.

30.11.06

Primeiro concurso “Oh G Suis!” de literatura virtual

Eram tempos difíceis aqueles. Sentávamos em cadeiras vermelhas de plástico, pedíamos sempre as mesmas músicas da saudosa década de 90, bebíamos o líquido áureo que vinha em copos americanos com rachaduras e divagávamos sobre os assuntos nobres mais polêmicos do Oeste. Éramos chamados de bichinhos exóticos, calúnia jocosa para a qual dávamos os mais sublimes e coloridos motivos. Todos nós usávamos óculos de aro largo, o que garantia a validade dos nossos argumentos e, como se não bastasse, combinavam com nossas roupas sempre temáticas.

Levávamo-nos tão a sério que sempre acabávamos a noite completamente descabelados, cambaleantes ao som das canções da boy band que já foi moda, saudosos da excêntrica presença de Romário e capazes das atrocidades verbais menos coerentes que promessas políticas de esquerda radical. Aos olhos mais atentos, ao redor da mesa vermelha havia um bando de jovens em busca da oitava lagoa e da saideira.

Entre nós havia uma mulher que sustentava com toda a classe seu signo solar. Era taurina. Deu pra usar boina de repente e, constantemente, a perdíamos para o mundo paralelo da literatura. Assim, quando menos se esperava, a taurina não mais interagia, a não ser que fôssemos uma caneta ou um pedaço de papel. Às vezes, até podíamos ser. Seus devaneios iam parar no sítio virtual que conservava com esmero. Até hoje, creio que seu diário praticamente quimérico era mais popular que aquele novo Papa.

Num desses encontros, discutíamos sobre a utilidade pública que a atenção que seus rabiscos sem censura poderia adquirir. Foi então que a rapariga vaporosa, sempre cheia de comentários inúteis, porém coesos e à qual nem dávamos mais crédito, pois era fã da Madonna e não sambava em lugares públicos, falou mais alto: “Façamos um concurso literário entre os freqüentadores virtuais!”. Sua sugestão foi aceita com um carinho surpreendente e risadas com aquele ar de “pode ser, heim?”. Os prêmios seriam o troféu Zé Carioca, a publicação do texto no glamouroso sítio virtual e um chiclete Trident de canela.

Esticamos o assunto até as resoluções finais do edital. Os interessados mandariam seus textos para o e-mail ohgsuis@yahoo.com.br até o dia 11 de dezembro de 2006. Rod, polêmico criador de imagens engraçadinhas e talentosíssimas seria o responsável pela confecção do troféu que se chamaria Zé Carioca, em homenagem ao vizinho do saudoso Romário. Os juízes seriam: a taurina, claro; Paulita, uma das mentes mais brilhante da academia e um doce de mulher; a rapariga vaporosa que não samba, pois tinha que ser... afinal a idéia tinha sido dela. Na comissão julgadora ainda pairaria a estonteante participação especial do nosso enviado especial à Alemanha, Pedro Gomides, pois o talento é nato e a saudade é grande.

Já trôpegos, confabulamos ainda sobre o coquetel/baile dançante comemorativo que ofereceríamos aos participantes no Marcílio´s Ballroom, um dos lugares mais “phinos” da capital mineira da época. Seria uma noite inesquecível! E, pretensiosos como éramos, ainda convidaríamos o primeiro lugar para compartilhar nossa mesa no happy-hour nosso de cada terça-feira.

Mas o nível etílico era impiedoso e nos esquecemos de elaborar um tema pelo qual os literatos interessados fritariam seus miolos. No dia seguinte, com as cabeças latejantes, Taurina e a que não sambava resolveram a pendenga sob o seguinte raciocínio: “Vamos deixar quem sabe escrever falar por nós”, disse a garota que não colocava a mão no joelho e nem dava uma abaixadinha. Assim, o tema era:

“O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.”

Mal sabíamos nós, nessa época, que já havíamos reconhecido um no outro a ausência do inferno.


E a comissão julgadora declara aberta as inscrições para o primeiro concurso “Oh G Suis” de literatura virtual.


*texto daquela que nem abaixa e nem dá uma rodadinha ao som de zeca pagodinho.

(sem título)

enquanto o texto falando sobre o concurso não chega, posto aqui um trechinho de uma música que é um tanto quanto boa, viu?!

ainda mais quando é ouvida no alto de um lugar onde nem deus pisou ainda.

Cada passo falso que eu disfarço
e não posso mais sofrer
Eu não consigo mais viver sem ter,
poder retalhar não sei

Eu te levo e trago e não passo e
está tudo bem, tá tudo bem
Se eu desmonto e disfarço é
porque você não vem, você não vem
Mas se eu peço e renovo é
porque eu te quero bem, te quero bem


Faaca - Mombojó.

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e quando tom zé pira nisto aqui é coisa bonita demais da conta:

Tô te explicando pra te confundir

Tô te confundindo pra esclarecer
Tô iluminado pra poder cegar
Tô ficando cego pra poder guiar

Realismo Convincente - Mombojó.

29.11.06

a boina dela.

não lembro qual o horário, devia ser por volta de 23h, 23h30. o bar era o rockbar. um papel, uma caneta:
.
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um copo de cerveja. um cigarro. pessoas. você traga pessoas. o último trago. o último cigarro. você engole, você vomita. você quer. a vida. você quer a vida. a camiseta amarela. o casal que desce as escadas. bichinhos exóticos. porque ela tem uma boina. ela adora a palavra imbecil. eles dizem sobre ele. o ele. o ele que ela nem sabe. nem ela sabe. ninguém sabe. e, enquanto isso, ela engole a cerveja, a saideira, a caideira. a cadeira. o cardápio. cinzeiro. ele tinha feito uma promessa. porque terça-feira não é dia pra começar a namorar. paula diz que a sombra é azul. leandro diz que toda sombra tem um pouco de azul. andré divaga. turcheti não sabe. e ela não fumou um. o fumar um. o fumar que eles fumam. que eles vivem. que eles querem. ele quer. ele quer achar que ela. que ela... ele quer achar demais.
.
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e vem aí o o primeiro concurso "oh g suis" de literatura.
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l> ela faz cinema - chico buarque.
quando ela chora não sei se é dos olhos pra fora.

27.11.06

é quando...

é quando você está dentro de um carro à noite, no meio de uma chuva e fica observando a água escorrendo no vidro. é quando você está dentro do ônibus e, ao invés de observar as pessoas na rua, fica olhando para o chão e vendo quantas folhas caíram das árvores. é quando você vê duas pessoas conversando no carro e observa a luz contornando as silhuetas. é quando você faz um enquadramento e esquece tudo o que está ao redor. é quando você escuta só o som da guitarra entre bateria, baixo e afins. é quando dá vontade de fotografar sombras. é quando você escuta os outros falando e imagina estar dentro de um filme azul e amarelo. é quando o copo de cerâmica tem uma textura diferente. é quando as paredes são vermelhas. é quando um portão aparece na sua frente pichado com a seguinte frase: "game over". é quando você está com a cabeça baixa e ao se levantar vê um carro e mil lembranças passando há poucos metros. é quando dá vontade de atravessar uma avenida com os carros correndo. é quando a luz laranja do céu reflete no verde da árvore e você pára o que estava fazendo para observar aquela folha que está pra cair. é quando você imagina um lugar lotado, vazio. é quando você morde o seu colar de pérolas com o olhar de uma criança. é quando você se ama e nem sabe o por quê. é quando você acha que está enlouquecendo e encontra alguém que diz que tudo isso é normal.

whatever.

" ele lhe deu todas as esperanças e ela, o seu último cigarro".

ALVARENGA, Rafael Ferreira de; CASA DO FERREIRA, 2006, p.2711, v.003, cap. 123.

"teoria dos pescoçudos: de tão cult eu até flutuo".

ALVES, Leandro de Barros; CASA DO FERREIRA, 2006, p. 2711, v. 026, cap. 123.

"é melhor dizer adeus do que tchau, porque se acontecer o reencontro, vc já vai ter dito adeus. Um recomeço, talvez."

BOSSI, Thais Pimenta; CASA DO FERREIRA, 2006, p.2711, v.043, cap. 123.

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e eu tenho aula de rádio às 7h da manhã.

brigada, zé carioca!

25.11.06

resposta de um fã desordenado.

eu sabia que você diria tudo o que disse nessas cartas pra mim. eu sempre soube que um dia você diria, porque é óbvia demais. o seu clichê irrita, o seu sorriso irrita, a sua alegria constante irrita mais ainda.

mas enfim, o nosso banho gelado. tá tão longe, tão esquecido que nem me lembro mais de como era. eu só me lembro do azul da toalha que envolvia o seu corpo molhado. o corpo que tanto foi meu e que hoje... e que hoje....

o azul da toalha. o vermelho do seu sorriso. o laranja dos seus seios. o verde das suas mãos. o lilás das suas coxas. o preto do seu olhar. o escuro do seu olhar. escuro que há tempos já nos envolvia, nos envolvia como aquela toalha.

sobre eu ter deletado seu número de telefone da minha agenda, é verdade e não é a primeira vez que faço isso, você sabe. prefiro não ter nenhuma referência sua na minha vida. nem aquela carta que você deixou debaixo do meu travesseiro num sábado de manhã, não quero nada seu. se sofre por mim ou não, eu nunca acreditei em você. nem quando ria, nem quando chorava. e o seu sofrer não me afeta, eu desprezo suas lágrimas, inclusive aquela que caiu na minha blusa preta.

sim, você é esquisita. você é a desordenada da história, apesar de sempre ter arrumado minha cama. no entanto, a sua esquisitice é previsível. eu não falo sobre te querer mais, já repeti isso mais de mil vezes. e na verdade, nem gosto de falar sobre isso. eu prefiro deixá-la quieta e guardada lá no canto vesgo da minha vida.

você goza. você goza dançando, você goza fumando seu cigarro, você goza vendo um filme bom, você goza fazendo caretas. eu sei disso, não precisa me contar. eu sei que você samba até o sol raiar, eu já vi isso várias vezes. você borbulha, ferve. você morde e lambe os lábios. isso era bom. eu me deliciava com isso. deliciava.

bom, eu nem sei mais o que escrever para você. responder aquelas ofensas seria, no mínimo, ridículo.
ah! quanto ao seu telefonema de quinta eu quase atendi. mas sabia que você deveria estar bêbada como anda todos os dias.

e depois daquela cena.

se eu fosse um trecho:

"O jogo da amarelinha joga-se com uma pequena pedra que é preciso empurrar com a ponta do sapato. Ingredientes: uma calçada, uma pedrinha, um sapato e um belo desenho feito com giz, preferivelmente colorido. No alto, fica o Céu, em baixo a Terra, é muito difícil chegar com a pedrinha ao Céu, quase sempre se calcula mal e a pedra sai do desenho. Pouco a pouco, porém, vai-se adquirindo a habilidade necessária para salvar as diferentes casinhas (caracol, retângulo, fantasia, esta pouco usada) e um dia se aprende a sair da Terra e levar a pedrinha até o Céu, até entrar no Céu [....] o pior é que, justamente nesse momento, quando ainda quase ninguém aprendeu a levar a pedra até o Céu, a infância acaba de repente e se chega nos romances, na angústia do divino foguete, na especulação do outro Céu ao qual também é necessário aprender a chegar. E, por se ter saído da infância [....] esquece-se que, para alcançar o Céu, é preciso ter, como ingredientes, uma pedrinha e a ponta de um sapato."

o jogo da amarelinha - júlio cortázar.

[o fã desordenado me respondeu, em breve posto a resposta dele e hoje comentei um blog com uma frase que depois se tornou curiosa até pra mim: valeria a vã verdade valer vagando vaporosa em valises vermelhas?! ]

l> cabidela - mombojó.

23.11.06

carta para um fã desordenado II.

na minha burrice feminina eu acho que queria que você estivesse aqui comigo durante alguns minutos desta noite de quarta-feira. mas, ao mesmo tempo, eu sinto tanta preguiça e tanto nojo que penso que você aí, bem longe, é o melhor que poderia acontecer. descobri que estou cansada. cansada dessa sua chatice enjoada que me irrita e me faz sentir vontade de dar-lhe um chute daqueles bem doídos.
neste exato momento eu acredito que não acredito mais em você e em ninguém dessa sua raça filha-da-puta. se a minha raça também é fdp?! é, beiben. eu sei e por isso que mulher que confia em mulher só cai na merda. eu odeio esse seu jeitinho sensato de ser, achando que assim vai me ter mais fácil, me ter como um simples amuleto guardado no bolso para ser acariciado quando der na telha.
você e toda a leva de pessoas idiotas que o circulam acham que sabem quanto vale 2+2 na minha calculadora. ninguém sabe porra nenhuma e nem nunca vai saber. me faço óbvia demais pra ver até quando essa palhaçada continua, sei lá. não importa. só sei que o meu gosto ninguém sentiu, o meu verdadeiro gosto. nem você, seu paspalho.
e por acaso aquele boné anda com você ainda?! puta que pariu! você não se olha no espelho?! mas tá, fica eu aqui com minha breguice e você aí com a sua. ainda bem!
e ela?! como anda aquela bonitinha? afffe! morena invertebrada da porra! mas enfim, fica eu aqui com meu mau gosto e você aí com o seu.
só mais uma coisa: quando eu vi você atravessando a rua hoje percebi que eu nunca gostei do seu jeito de andar. vá logo no ortopedista pra ver se ele dá um jeito nesse pé torto.

22.11.06

é quando as cores pulsam.

dentre sonhos, lençóis, cheiros, texturas e lágrimas ela se olhou no espelho. a dor no coração era tão forte que ela não tinha forças nem para acender um cigarro. aquele chocolate que chorando foi buscar nem havia sido aberto ainda e ela ficava se perguntando até quando iria chorar por pessoas que insistiam em aparecer nos seus mais belos sonhos. ela se deitou e tateou aquele livro que ele emprestara. chorou mais e o desejou como nunca. queria que ele estivesse ali olhando para ela com os seus olhos de menino e desejando tê-la em seus braços por toda a noite. sim, por um momento ela fechou os olhos e sorriu acreditando que ele estava ali, deitado, sem camisa e decorando cada canto do quarto, daquele quarto que era tão deles.
o dia amanheceu um ano depois. os cartazes colados na parede do quarto já não eram mais os mesmos. a energia não era mais a mesma. e a paz borbulhava em cada parede.
em cada parede do quarto dela.

21.11.06

desbravando o santa teresa a.k.a. perdidos ao som de chucrobillyman a.k.a placa de pare nas alturas a.k.a sintonia com o camelo a.k.a me apaixonei por

você a.k.a procurando um buteco na segunda a.k.a 4 perdidos numa segunda feira sem lei.

é porque, às vezes, a felicidade me consome.
e tudo fica igual a uma esponja.
sim, eu faço samba e amor até mais tarde.
e dizem que pareço com a senhorita amélie poulain.
dizem que tenho olhos bíblicos.
e aquele cara solitário com um copo de cerveja na mesa.
os gringos falando sem parar.
e é quando a rua não tem mais saída,
mas a gente dá a volta.
eu vi um avião em miniatura.

e é quando você fala que
almodóvar é colorido,
azul, vermelho, branco.
e kubrick é vermelho e branco.
e que bergman é vermelho
com sombras esfumaçadas.
que fellini é a essência do circo.
e que amélie poulain é verde e vermelho.

é quando você sente a delícia de ser uma usina de sentidos.

eu prefiro sambar com você e não deixar o samba acabar.

vai, me absorve que hoje eu quero ser só seu.

esse é o reino da alegria.