6.11.06

a voz.

ela apagou a luz e se deitaram, os corpos se colaram mais, corpos que antes se completavam da maneira mais bonita, mais intíma. e que agora se procuravam, mas sabiam que poderiam nunca mais se ter.
aquele silêncio. alguma coisa. o alguma coisa lhes era estranho.
é um dito não dito. um faço e desfaço.
o sentimento à flor da pele.
a vida à flor da pele.
ele sabia.
o mundo não ia parar para que ele consertasse aquele momento.
o mundo não ia acabar.
a paz dele. só dele.
o esquecer que também era tão dele. mas que ele não queria e queria e não sabia o porquê dessa confusão (ou preferia não saber).
a espera que se apagava tão suave, mas ao mesmo tempo, tão seca.
tão assim, calada.
e o silêncio. sempre o silêncio.
o silêncio que lhe falava mudo.
era ruim saber que tudo aquilo não era pra estar acontecendo.
nada daquilo fora programado e ele odiava ter que lidar com essas derrapagens que a vida lhe pregava.
era estranho lembrar que há dois dias ela lhe disse que queria fazer amor com ele.
o silêncio.
o silêncio lhe contava que, talvez, ele fosse fraco demais.
ou tão forte que nem sabia como lidar com isso.
ele não acreditava mais no amor.
naquele momento o amor lhe mostrou mesquinho e pequeno demais.
mas se levantou e pegou suas coisas.
a porta já estava aberta.
olhou para ela e nem sentiu vontade de se despedir, não teria forças para isso.
partiu.
a chuva ia caindo aos pouquinhos.
e na calçada um bilhete. uma frase tão feminina que mexeram com suas ilusões.
a letra não era dela e ele sabia que nunca mais leria algo com aquelas letras tão pequeninas.
era outra.
a voz feminina que lhe cantava baixinho e fazia com que ele dançasse ali, no meio daquela rua deserta, o chamou.
tocou o samba mais bonito, comprou o vinho mais suave e lhe fez dançar.
dançar com ela.
a noite.
a noite toda.

Um comentário:

Anônimo disse...

"esse povo poeta é tudo doido".

vc me disse isso ontem.