20.12.06

algo.

18h30. aquela chuva não parava, o coração daquela pequena menina palpitava de ansiedade. em meio àquele aguaceiro ela atravessou a rua; seus pés molhados. olhava para todas as pessoas que por ela passavam, não, nenhuma era ele. até que chegou, subiu as escadas e ao olhar para sua direita viu aquele chapéu, aquele cigarro, aquelas mãos que tremiam. sentou-se e riu, parecia pecado acreditar naquilo. lapidando o olhar daquele homem ela se perguntava qual seria o gosto da sua boca. e em meio à risadas, lembranças, ele pediu um beijo. ela hesitou. escutou ao fundo o dedilhar de um piano e olhou para a boca. dele. a distância de um maço de cigarro. o beijo. o deliciar do beijo. sabiam que depois dali não seriam mais os mesmos. a trepidação da usina de sentidos, o gozar, o querer, o arranhar singelo. filmes, cinema, muito cinema! e ele fechava os olhos e falava e falava. falava com a ânsia de se querer entendido, enquanto, com a calma do seu olhar, aquela menina tão pequenina o observava, o tocava, sentia. quantas pintas teriam pelo seu corpo? ele perguntou. a pinta solitária nas costas da mão direita. e o esmalte vermelho, a pulseira vermelha. ele a olhava, a pincelava com os olhos, seria um pintor o espectador daquela cena? nada mais existia, só o estalar dos toques.
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quanta doçura...
quanta ternura...
quanta tristeza...

6 comentários:

Anônimo disse...

quanta magia neste momento singelo.
truques da vida, sempre surpreendentes!!!
que delícia..

madá disse...

eu não entendo de amor.

anymore.

paula r. disse...

quanta delícia, minha querida. a gente às vezes até esquece, não é?

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paulinha sabe das coisas?

Anônimo disse...

como é difícil viver, eu diria, se fosse um expectador de mim mesmo, e não tivesse tantas obrigaçãos para comigo, inclusive, a de carregar, diariamente, esse monte de osso mortos do meu corpo.
quero andar de chapéu até mesmo quando não estiver com ele na cabeça.
quero viver em função de meu chapéu.
o chapéu, eu diria, é hoje o que foi os cabelos de um herói de outrora.
meu chapéu é, pois, minha glória e meu fracasso.
por que não o vejo no espelho, quando estou desnudo de minhas armaduras?
quero a morte do meu chapéu;
quero a morte desse algo-além que diz ser parte de mim, mas que, ainda, e obviamente, não me pertence, ao menos em corpo.
o chapéu não sou eu.
eu não sou um chapéu;
sou apenas a sombra oferecida por meu próprio chapéu.
apenas a sombra.

Bárbara Gegenheimer disse...

quanta sensibilidade! =)

Anônimo disse...

Você é um poço de sensibilidade...
Ah o template eu ganhei de amigo secreto virtual =)
=***