14.12.06

resultado do "oh g suis"

Primeiramente gostaríamos de nos desculpar pela demora na divulgação do resultado do Primeiro Concurso "Oh G Suis" de Literatura Virtual. Nosso atraso foi devido às vidas conturbadas e agendas lotadas dos integrantes da comissão julgadora.
Bom, recebemos vários textos, alguns mandaram até mais de um texto e foi difícil escolher, dentre todos, apenas um. Mas esprememos, esprememos e cá está:
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Agora, vejam o porquê:
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Se se fosse produzir um filme abre parênteses filme não, né? Sim, cinema é lindo, mas fazer um filme, não sei, é muito distante. Façamos um vídeo, porque vídeo é gueto, vídeo é universo em exploração, e, acima de tudo, vídeo é fragmento, e fragmentos são belos fecha parênteses Se se fosse produzir um vídeo, transformar imagem da vida extra-oficialmente produzida para ser assistida em imagem da vida oficialmente produzida para ser assistida, teria que ser tudo em super-oito; super-oito para tentar dar conta desses elementos clichês que permeiam um fato inédito, para passar a sensação de coisa que já foi e que na verdade nunca foi, mas pela qual já há o sentimento de falta, algo que incomoda (ainda que nunca) abre parênteses imagem de super-oito ou de câmera de celular? Há tanta poesia nestas últimas, na maioria das vezes precárias, feitas ali, no imprevisto, do imprevisto e para o imprevisto. A câmera de celular revoluciona porque aumenta a quantidade de imagens e, paradoxalmente, as singulariza. É o seu olhar, é a sua mão, é o seu recorte. Além de tudo, há um ar de documento, um ar de guardado, algo que escapa do puramente digital fecha parênteses Como filmar o inferno? Ou melhor, como retratar o inferno? Pensemos: como sair desse clichê cheio de extremos, de inferno ser o total calor ou o total frio, o completo isolamento ou a multidão infinita, o cheio ou o vazio? Paira no ar esse gosto de renovação, essas vontades de novo. Inferno são as pequenas coisas. Inferno são pequenas coisas geradas por pessoas, pequenas ou não abre parênteses analogias imbecis sempre ajudam raciocínios que tornar-se-ão grandiosos; portanto, vamos lá: o inferno é a sociedade do espetáculo. De acordo com alguns autores, para escapar do espetáculo é preciso inserir-se nele e dele emergir, pois permanecer na margem simplesmente não funciona. É preciso emergir do espetáculo e sumir antes de ser engolido por ele. Algo como as TAZ, de Hakim Bey. Mais um ponto para o vídeo. Vídeo é naturalmente escape, é o outro lado, é onde tudo se pensa fecha parênteses não pode-se cair em outra frase feita, 'o inferno são os outros'. Passar por Sartre superficialmente pode ser perigoso. Mas enfim, o inferno são os outros e eu, assim como você, sou o outro, logo, o inferno sou eu. Um vídeo de si mesmo. Não. Aqui não interessa a imagem do inferno. Não é esse o caminho mais fácil? Fácil nunca foi atraente. Fácil deixa pulga atrás da orelha e sensação de 'qualquer um pode'. Ninguém quer filmar qualquer um. O homem ordinário só é filmado quando cria um dispositivo que o permite colocar sobre si um holofote e ser alguma coisa. Gostoso mesmo é quando as coisas são verbalizadas, quando sentimento vira palavra - escrita, falada ou filmada -, quando não há medo da exposição nem da nostalgia da super-oito ou da imagem de celular, tão bela e tão imbecil, e que parece traduzir a impossibilidade de tradução. É preciso subverter a ordem do inferno, agenciar essa coisa que vem de dentro e está ao redor. Sim, é claro que se quer o caminho mais complexo: é preciso reconhecer, dentre todas as imagens existentes, a que não é inferno abre parênteses fica decidido que, se se fosse produzir o vídeo, este seria feito com câmera de celular; a super-oito chamaria muita atenção. O celular vai aqui funcionar de forma simples, e que, apesar de extremamente invasiva, passa praticamente despercebida na sociedade contemporânea: um sistema de vigilância, uma busca permanente por captar o que normalmente passa despercebido - ao menos neste contexto. Afinal, se o inferno é a sociedade do espetáculo e o que não é inferno é uma zona autônoma temporária, esta logo de esvairá, assim que identificada. Ela nunca pode ser mapeada, afinal de contas fecha parênteses o que não é inferno? Inferno são pessoas, é fato, mas são as pessoas a alternativa ao inferno; por conseguinte, o que não é inferno é pessoa. Questão de lógica. Só que a lógica não rege a contemporaneidade; vivemos as regras da sedução. Seriam então pessoas provisórias, pessoas de passagem? Pessoas que questionam, talvez. Seduzem e questionam, porque fazer o apenas o primeiro é fácil. Fazer o primeiro é aceitar o inferno e simplesmente abstrair. Só é possível registrar a imagem do que não é inferno com um ar nostálgico, porque o que não é inferno é o que não se pode efetivamente apreender. Ar de fragmento de sentimento. Sim, o que não é inferno é o simples: é o olhar, é o arrepiar da pele, é o cheiro de pipoca, é a sensação de ver o outro gozar. É o que passa, que não pode ser nominado, que não é passível de armazenamento. Enfim, o que não é inferno nunca poderá ser filmado, nem no cinema, nem com super-oito; nem com vídeo nem com imagens de câmera de celular. Ainda há o medo de escuro, é fato, mas a vida às vezes se mostra inegavelmente mais azul. Há o escape, há o azul e há a subversão. O que não é inferno tilinta na obscuridade, e é preciso esforço enorme para identificá-lo. Guardá-lo não, nunca. A beleza do que não é inferno passa por sua brevidade e por sua não linearidade, irregularidade que incita. O que não é inferno? É o que emerge dele e depois some. Preste atenção: apesar da inconstância, é possível mapear o dispositivo inferno e desenhar sua cartografia. E as linhas de ruptura sempre são as mais interessantes, porque podem ser o que não é inferno – podem ser abre parênteses talvez o que não é inferno seja a frase que simplesmente escapole, seja ela escrita, falada, filmada. Pode ser também palavra desenhada, por que não? Mas essa eu ainda estou aprendendo a ler fecha parênteses Constatação provisória - se é que existe alguma permanente; há tempos me disseram para parar de procurar axiomas: é na imbecilidade sincera que o pontinho azul surge em meio ao inferno, que, se se fizesse um vídeo, seria branco: um branco que estoura, clichê como deve ser. o inferno é clichê.

05 de dezembro de 2006 (nunca date seus escritos)

Nota: este texto não tem título porque este texto não é um texto: é um fragmento.

4 comentários:

paula r. disse...

trident de canela... huuummmm! =)

Anônimo disse...

não sei, mas algo me diz que eu já sabia...

Unknown disse...

precisa falar que é merecido?

aplausos daqui do inferno.

madá disse...

eu PRECISO conhecer paula.
tipo, ela é outra turcheti!
ela TEM que entrar na minha vida.

por favor, pimenta. me ajude.