29.7.06

um diálogo para trabalhar...

“ou você retorna
à moda antiga...

“principalmente nas cenas de amor
entre os casais.”

Assim, eu deveria refazê-las. Mas, como eu não posso,
eu tenho que fazer mudanças internas.

Ou na minha vida.

Mudar minha vida também.

Mas você pode simplesmente mudar sua vida
e continuar?

Você, por exemplo, quando você tem que
fazer uma escolha, eu tento te dizer...

quer dizer, quando você diz que está receosa,
ou que não sabe como...

...até quando é algo simples
como tirar uma foto...

...eu digo a você que Eisenstein
não fazia melhor ou pior do que isso...

Quando ele trabalhava, ele não se via
como o gênio que é considerado hoje.

Se ele fazia melhor ou pior
do que você é irrelevante.

Eu mencionei Eisenstein para agradar você,
mas poderia ser qualquer outra pessoa.

Se eu estivesse comparando seu trabalho
com o de um diretor desconhecido...

isso não significa que ele é pior,
de forma alguma...

Quer dizer, você pode fazer!

mas, algo em você
te faz sentir que não pode.

Por outro lado, você,
através de sua própria análise...

...você tenta melhorar um pouco o diálogo
que eu não fiz tão bem.

Há momentos em que, como qualquer um,
nós todos fazemos um pouco melhor ou pior.

Embora não fiquemos felizes com isso.

Agora, eu só posso entender as coisas totalmente
quando eu as vejo.

É por isso que eu estou tão intrigado
com essa estória da análise...

...com as descobertas de Freud, se preferir,
com a ciência de Einstein.

Então, quando você diz que entende as coisas
totalmente quando as vê...

Vamos voltar ao exemplo que
você deu há pouco.

O diálogo que você não poderia escrever,
ou melhor, não poderia escrever bem...

...como as cenas de amor em
um filme como Detective...

...entre Nathalie Baye e
Calude Brasseur como um casal...

...ou Nathalie Baye e Johnny Hallyday
como o outro casal na estória...

Então, quando você diz que entende o que há
De errado com as coisas quando as vê.

Mas, nesse caso você pode ver
o resultado final.

Só porque você explicitou isso pra mim,
você me fez ouvir isso.

É difícil para um escritor ouvir seu próprio texto
como se fosse de outra pessoa...

Nesse caso você me faz olhar para
o meu texto como se fosse de outra pessoa

Então eu me digo, não, não é melhor
que Alan Parker

Talvez um pouco, mas não muito...

Então, eu consigo ver isso... eu consigo escutar...

Como um teórico... como Einstein, que mostra
uma estrela em algum lugar...e aí se faz uma experiência...

E ele diz, “olhem nesta direção e vocês
verão a estrela”... e eles vêem a estrela...

Às vezes 50 anos depois.

Eu tenho a impressão, na verdade, que
vemos sem ver e que escutamos sem escutar....

Porque é nossa própria voz....

Mas será que isso não impede alguma coisa
depois, e então não há...?

Você quer dizer não impede alguma coisa
no sentido...

Por exemplo, quando pensamos nas cartas
trocadas entre Rilke e Lou...

Você acha que pode haver um impedimento
neste sentido?

Sim, no caso, se eu fosse Rilke e
eu disesse a Lou:

“ Eu gostaria que você tentasse
escrever um poema...”

“Para que eu possa ver o que
você pode fazer como um poeta”

Ela diria:
“Não, certamente não é possível”

Mas isso teria ajudado Rilke a ver...


“Tudo bem, então eu posso fazer mas ela não.
Não há um crime nisso...”

“Os patos fazem tal coisa,
outros pássaros fazem outra coisa...”

É por isso que eu sou puxado pela idéia...

do cinema que fariam as pessoas
que não vão ao cinema

e tenho a impressão que, de qualquer forma,
sinceros como são, eles se fazem um cinema

O filme é uma imagem muito cômoda
daquilo que acontece...

Muito rude, muito primitiva...

Com a arte da vida...

...ou uma lembrança da vida, um projeto de vida...

Sim, há estas duas e talvez muitas outras
alternativas além destas...

Mas eu não acho uma seja melhor que a outra,
de um ponto de vista estético ou moral...

Uma fantasmagoria de migalhas!

O que te inquieta? Se eu soubesse
o que te inquieta eu poderia ...

...eu me diria... eu coloco uma questão
em relação à Tv...

Se eu conseguisse sentir...

seja o que você não pode fazer ou...
...o que você não quer fazer....

Mas eu não consigo...

Em certos momentos eu sinto que
o que pode haver de original na maneira....

...que eu vejo as coisas ou na maneira
que eu quero contá-las, ou mostrá-las...

... eu tenho impressão que essa originalidade
é efetivamente uma coisa muito frágil.

Quando o cinema não é para mim...

...essa coisa tão poderosa e tão única
que é para você...

... para você é isso e nada mais...

Pra mim é algo muito mais frágil, e eu tenho impressão
que todas as coisas exteriores....

como figurino, apresentação do roteiro,
meios de conseguir dinheiro...

tudo isso, eu sei que me equivoco sobre estas coisas
mas eu tenho tentado aprender, lentamente...

eu tenho impressão que tudo isso põe
em risco esse “fio de voz” que tenta se exprimir...

agora você, mesmo que no meio da confusão,
da tormenta, seu “fio de voz”...

... o seu discurso...
que na verdade não é um “fio de voz”


Você fala, você não hesita em gritar para
se fazer entender.

Você não tem dúvidas de que o que
você quer dizer tem um interesse...

Desde que tenha um interesse na sua opinião,
então há de fato um interesse...

Já eu...eu sou mais amedrontada...e mais...

...cheia de dúvidas em relação a isso....

Eu acho surpreendente em alguém como você,
que veio para o cinema...

... ou que teve desejo de ver filmes...

...bem antes de mim.

Numa idade mais nova, quero dizer.

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