29.7.06

...pelo seu próprio amor

A ruína da beleza que se impõe
como uma lei pelo seu próprio amor

confinada em si mesma, incapaz de se renovar,
de se ampliar, de se desenvolver...

Este é o jogo da beleza
regulado pelo prazer...

voraz, voluptuoso, libidinoso, imutável.

Este jogo, impregnado da beleza,
impregnando tudo com a beleza...

...toma como único fim
a beleza jogando consigo mesma.

Então, este jogo, impregnado da beleza,
impregnando tudo com a beleza...

...tomando como fim a beleza
em jogo consigo mesma

Este jogo se desenrola no limiar
do real...

passando pelo tempo
sem aniquilá-lo...

...jogando com o acaso
sem dominá-lo.

Repetitivo, infinitamente prolongado,
ainda avançando em direção ao seu fim.

Porque só a humanidade é divina.

E assim, a intoxicação da beleza
se revela ao homem...

A intoxicação da beleza se revela
ao homem como um jogo desde já perdido.

Perdido...

Era um imenso, infinito espaço
se estendendo em infinitas direções.

Um espaço onde as frases não
se sucedem umas às outras...

...mas se entretecem em infinitas interações.

Não havia mais frases,
mas dons do inexprimível.

Dons da vida, dons da criação...

...abraçando o mundo, concebido
por uma consciência anterior.

Uma paisagem inexprimível.
com elementos inexprimíveis.

O mundo do destino, abandonado pela criação...

onde o mundo da criação
se deita como um acidente.

Talvez seja esta a diferença entre
eu e você olhando a imagem.

O que eu realmente admiro nela é sua inacessibilidade.

Mas, isso é precisamente o que te incomoda.

O exemplo da galinha que você
mencionou há pouco...

...precisamente porque ele não é...quer dizer,
ele não tem que ser espetacular.

Ele não tem que ser mostrado, e se isso
é o que te incomoda, então talvez...

Por que se deve mostrar as coisas?

Alguém poderia dizer “a TV me incomoda
porque ela não mostra as coisas”

Então, talvez, você deveria gostar dela
porque ela não mostra...

Não é isso. A televisão nunca mostra as coisas,
mas te faz pensar...

...que não pára de mostrá-las.
E isso é o que mostrar as coisas significa.

E não há outra maneira
de mostrá-las.

Elas não deveriam ser mostradas.

Sim, mas a TV é profundamente desonesta.

Ela justifica sua própria “boa consciência”

...convencendo a si mesma de que
o que ela faz é mostrar...

...e que mostrar é isso, é dessa forma que se faz.

- Eu acho que ela sabe disso.
- É mesmo?

Eu penso que algumas imagens são inacessíveis
e não podem ser mostradas.

Por exemplo, as relações
amorosas...

Cenas de amor...

Uma vez que você vai além
do beijo de cinema de Hollywood...

...você não sabe como ou o que mostrar.

Você pode apenas mostrar outras imagens
de algo em processo.

Se você voltar à imagem
da galinha e do ovo...

se você realmente quer mostrar
uma imagem do ovo...

talvez você pode pensar que enquanto
o ovo está aparentemente parado

Todo tipo de coisas invisíveis
estão acontecendo dentro dele.

Então, esse tipo de conversa
entre várias pessoas...

...é equivalente ao silêncio?

Do tipo que ocorre na análise?

Não.

Ou a troca entre duas pessoas?

Não.

Vai-se mais fundo na análise?

Sim.

Então, agora, nós quase entendemos os efeitos
da análise interior e exterior

Talvez eu faça a interior,
enquanto você faz a análise exterior.

Ou talvez não. Não devemos forçar isso.

Não, não devemos. Mas porque você
queria à análise interior?

Porque para fazer uma análise exterior
da televisão, por exemplo...

... não estamos à altura...

Mas ainda há uma necessidade para as pessoas
que vão fundo nas análises interiores...

O que você quer dizer com não estamos à altura?

Não só não estamos
Como afundamos…

Porque não temos o peso necessário
para flutuar.

Tudo bem, mas você continua…

Você continua a poder fazer seu trabalho...

mesmo se os meios que você usa
nem sempre se adequem ao que você gostaria...

É sempre eu quem diz isso.
E quanto a você?

Sim, mas estou falando sobre você agora.

Eu ainda estou falando de “não estarmos à altura”

Quando você faz um filme
ele não passa desapercebido.

Sim, mas pelas razões erradas.

É precisamente onde você pode interferir.

Pelas razões erradas, em relação às quais eu
talvez possa fazer algo, mas apenas parcialmente.

Talvez algumas coisas precisam ser mudadas.

Não no produto em si, mas na maneira
como você concorda em distribuí-lo.

A maneira como você acompanha sua distribuição.

É aí que você poderia mudar as coisas...
Eu não tenho certeza...

- Mas, eu te interrompi.
- Não, não...

Eu acho que foi você quem me disse...

Quando estou me queixando de
Nathalie Baye ou Johnny Hallyday em Detetive...

…ou sobre Marushka em Carmen…

...você me disse que dada sua situação

...seja como estrelas ou desconhecidos...

…ou Mirian em Je vous salue Marie…

estrela ou desconhecido... dá na mesma.

Talvez eles todos sejam as verdadeiras estrelas.

De todo modo, você disse: “você pode
estar absolutamente certo sobre os atores...

“mas você mesmo não é capaz de...

“você não oferece a eles mais do que

Nenhum comentário: