27.10.05
irreconhecível.
Esforços do sujeito apaixonado para compreender e definir o ser amado "em si", com um determinado tipo característico, psicológico ou neurótico, independentemente dos dados particulares da ligação amorosa.
1. Estou preso nesta contradição: de um lado, creio conhecer o outro melhor do que ninguém e afirmo isso triunfalmente a ele ("Eu te conheço. Só eu te conheço bem!"); e, por outro lado sou freqüentemente assaltado por essa evidência: o outro é impenetrável, raro, intratável; não posso abri-lo, chegar até sua origem, desfazer o enigma. De onde ele vem? Quem é ele? Por mais que eu me esforce não o saberei nunca.
2. Se desgastar, se esforçar por um objeto impenetrável é pura religião. Fazer do outro um enigma insolúvel do qual depende minha vida, é consagrá-lo como deus; não decifrarei nunca a pergunta que ele me faz, o enamorado não é Édipo. Só me resta então converter minha ignorância em verdade. Não é verdade que quanto mais se ama, mais se compreende; o que a ação amorosa consegue de mim, é apenas uma sabedoria: não tenho que conhecer o outro; sua opacidade não é de modo algum a tela de um segredo, mas sim uma espécie de evidência, na qual fica abolido o jogo da aparência e do ser. Experimento então essa exaltação de amar profundamente um desconhecido que o será sempre: movimento místico: tenho acesso ao conhecimento do desconhecido.
3. Ou ainda: ao invés de querer definir o outro ("O que é que ele é?"), me volto pra mim mesmo: "O que é que eu quero, eu que quero te conhecer?". O que aconteceria se eu quisesse te definir como uma força e não como uma pessoa? E se eu me situasse como uma outra força diante da tua força? Aconteceria o seguinte: meu outro se definiria apenas pelo sofrimento ou pelo prazer que ele me dá.
By Nonada.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário