Banda britânica mostrou virtuosismo e energia exata na execução.
Recentes ganharam nova textura, e banda não foi avarenta com sucessos.
O amigo Nelson Motta costuma dizer que, se o público da apresentação do Police no apertado ginásio do Maracanãzinho em 1982 fosse aferido pelos que hoje juram ter estado lá, o número passaria fácil dos 200 mil espectadores.
Seguindo esse raciocínio, daqui a uma década teremos meio milhão de brasileiros a jurar que estiveram na Chácara do Jockey no domingo, 22 de março de 2009.
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Um Radiohead pródigo (26 músicas no set list) fez o público de São Paulo se perguntar o porquê de tanta espera - ao mesmo tempo em que constatava que melhor momento não poderia haver para esse encontro. Thom, John, Colin, Ed e Phil foram uma banda no ápice de sua maturidade. Dominam seus instrumentos com virtuosismo e executam as músicas com energia exata.
Canções que conhecemos recentemente em "In Rainbows" ganharam texturas novas. Ao vivo, a excelente "Bodysnatchers" teve o pitch reduzido, ficou mais cadenciada, tornando explícito seu pezinho no blues. Ed e Johnny sujaram de distorções até mesmo a balada "House of Cards". Assisti à segunda apresentação da turnê europeia deste show (Dublin, 7 de junho do ano passado) e percebi ontem como "In Rainbows é" um trabalho vivo e pulsante para o Radiohead. Várias músicas mudaram e soam diferente nove meses depois. Será uma injustiça se esse álbum for lembrado no futuro mais pela mudança de paradigma no comércio musical do que por seu mérito artístico.
Mesmo tocando todas as canções de seu último disco, a banda não foi avarenta com os velhos sucessos. Sobre eles, aliás, os fóruns das redes sociais estão animados. Fã que é fã sempre quer mais, e muitos cobram músicas que não entraram no set list de ontem ("Como ousaram deixar de fora "How to disappear completely"? Procon neles, faltou "2+2=5"!).
De minha parte, senti a ausência de "Airbag", mas tenho que ponderar: quantos artistas no pop/rock atual oferecem, juntas numa mesma noite, preciosidades como "Karma Police", "Paranoid Android", "Pyramid Song", "There, There", "Idiotheque" e "Fake Plastic Trees"? Talvez você tenha respondido com três ou quatro grupos, o que obriga a refazer a pergunta: quantas bandas oferecem maravilhas como essas aí de cima E não estão apenas caçando níqueis para reformar o castelo do guitarrista ou pagar o divórcio do vocalista?
Ah, sim, ainda teve "Creep", essa espécie de "Ana Júlia" do Radiohead - com a diferença que os ingleses já passaram da fase de renegar música do começo de carreira.
Dezessete anos depois, "Creep" decantou como uma canção inocente fagocitada pela complexidade de "OK Computer" e o vanguardismo de "Kid A". Mas foi ela que alertou o mundo para existência de uns sujeitos novos e estranhos na cena indie. Ela forma um vínculo emocional com o público que viu a trajetória mais coerente de uma banda de rock nos últimos 20 anos. E ontem, na Chácara do Jockey, um coro de 30 mil vozes encerrou a noite acompanhando Thom Yorke no verso "I don't belong here" -- com a certeza de que, na verdade, não havia lugar melhor para se estar naquele momento.
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