uma gota. já havia perdido a conta, não era ele, nem ela, ninguém. Marcos ou Marcus? Nunca achou que uma letra fizesse diferença. Caminhava por entre rostos, corpos, vidas e não se dava conta de nada. Um vazio, grande, espaçoso, intenso, imenso. Talvez ficasse preocupado demais em desenvolver teorias e verdades instântaneas.
Ricardo,
quantos anos você tem? Ontem pensei em te tirar um pedaço, arrancar com os dentes. Ouviu minha respiração na secretária eletrônica? Então, era aquilo. Não sei se me entrego a esse amor, vivo muitos amores, muitas cartas, palavras, danças e rimas. Não sei se você me merece inteira, doada, entregue. Eu gosto de vida com vida, tesão com paz, cantigas de ninar. Não sei se espero alguma coisa de você. Eu não amo ninguém. Arrogante? Pois é, mas não amo mesmo. Eu já vivi muitas alegrias, momentos que imaginei que nunca iam acabar dentro de mim, mas... morreram. Todos morreram e não paguei enterro algum. Você me acha confusa, às vezes meio vazia, bobinha, eu sei. Mas você me ama.
Ricardo, jornalista, 34 anos, moreno europeu, tinha uma pinta perto do nariz e mais outras várias espalhadas pelo corpo, andava pelas ruas olhando para os lados e diversas vezes teve que se desviar dos postes para não trombar e cair, gostava de acordar cedo e de dormir do lado direito da cama, não tinha cachorros, nem plantas, pois não lhe agradava a idéia de ter alguém dependente dele neste mundo, quando caía na infância sempre apoiava primeiro a mão direita no chão, apontava os lápis só com apontador azul, Ricardo era bonito, tinha gosto de cheirobom indefinido, usava meias amarelas até o joelho, mas por debaixo das calças, pois queria engrossar a panturrilha; Ricardo amava Anna, mas não queria morrer.
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