"No fundo, poderíamos ser como na superfície - pensou Oliveira - mas seria preciso viver de outra maneira. E o que quer dizer viver de outra maneira? Talvez viver absurdamente para acabar com o absurdo, atirar-se em si mesmo com uma violência tal que o salto terminasse nos braços do outro. Sim, talvez o amor, mas a otherness nos dura o que dura uma mulher, e além disso somente no que toca a essa mulher. No fundo não há otherness, apenas a agradável togetherness. É certo que isso já é alguma coisa..." Amor, cerimônia ontologizante, doadora de ser. E por isso pensava agora o que talvez devesse ter pensado desde o princípio: sem possuir-se não havia possessão da outridade, e quem se possuía realmente? Quem estava de volta de si mesmo, da solidão absoluta que representa não contar sequer com a própria companhia, ter que entrar no cinema ou no prostíbulo ou na casa dos amigos ou em uma profissão absorvente ou no matrimônio para estar pelo menos só-entre-os-demais? Assim, paradoxalmente, o cúmulo da solidão conduzia ao cúmulo do gregarismo, à grande ilusão da companhia alheia, ao homem só na sala dos espelhos e dos ecos. Mas gentes como ele e tantos outros, que se aceitavam a si mesmos (ou que se rejeitavam mas conhecendo-se de perto) entravam no pior paradoxo, o de estar à beira da outridade e não poder alcançá-la. A verdadeira outridade feita de delicados contatos, de maravilhosos ajustes com o mundo, não se podia cumprir a partir de um só termo, à mão estendida deveria responder outra mão vinda do lado de fora, do outro".
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O Jogo da Amarelinha - Julio Cortázar.
*depois de "Grande Sertão" é o livro mais bonito que já li.
5 comentários:
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você é toda linda!
=))
rá! vc que está sumida, e seu fotolog comprova! Desse fds a gente não passa!
Menina, que bom que voltou!!!
Nem sabia da existência desse livro, mas o trecho é muito bom!
=*****
Bem vinda de volta =)
meu preferido.
quero ler, pô. puts!
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