10.1.07

Fernanda.

Aquela porta de madeira antiga a convidava e o olhar daquela mulher admirava cada ferpa que insistia em se fazer presente. Abaixou seus pequeninos olhos e observou a maçaneta: estava toda empoeirada. Suas mãos se coçaram de vontade para se pousarem sob aquele chamariz de ferro e num instante de impulso, ela abriu aquela porta. Uma escada. Olhou para cima a fim de saber para onde aquele monumento de ferro a levaria, mas viu somente o preto. Pensou durante alguns minutos se subiria ou não e sentiu uma curiosidade lhe instigar, mas, ao mesmo tempo, um medo a invadiu. Colocou seu pé direito sob o primeiro degrau e sua mão esquerda sob o corrimão. Olhou mais uma vez para cima e respirou fundo, não adiantava mais querer voltar, ela tinha que subir. Foi subindo devagar e só se deparava com poeira e mais poeira. Depois de muitos degraus ela encontrou papéis espalhados, mas a escuridão intensa a impedia de ler o que estava escrito neles. Subiu mais um pouco e achou uma fresta que permitia a luz da rua entrar um pouco. Eram cartas, muitas cartas. Algumas não terminadas e outras apenas com uma frase, uma palavra. Umas mais amareladas que as outras, as datas eram de anos atrás, mas a letra era a mesma em todas; pareciam ser de um Manuel para uma Fernanda. Ela sentou-se, a curiosidade para saber o que estava escrito naquelas páginas amareladas a fez esquecer de toda poeira que pincelava aqueles degraus.

Fernanda,

Já passa das vinte e duas horas e estou aqui no meu quarto relembrando o seu sorriso, tentando resgatar em minha imaginação o suave do seu corpo. Foram tantos sonhos, tantas palavras ditas e reditas, tanto amor oferecido e recebido. Eu te amei muito e sei que, apesar de tudo, você me amou também. Não choro pelo amor que não existe mais, não choro por nada, não há porque derramar lágrimas. Só sinto saudades, saudades da sua voz na pontinha da minha orelha causando arrepios em meu corpo. Ah! Foi bom! Mas nada disso significa que ainda guardo uma vontade de tê-la comigo novamente. Não, não quero mais nada. Nem revê-la eu quero mais, prefiro ficar somente com as lembranças.

Um tenro beijo,

Manuel.
02/08/35


Fernanda,

Ontem fiquei te observando no baile! Ah! Como estava linda naquele vestido vermelho! Eu, ali, sentado timidamente admirei cada passo que dava. Era a mais bela de todas!

Um beijo,

Manuel
06/09/33




Fernanda,

Eu queria que soubesse que ...



Fernanda,

Será que um dia nossos olhares serão somente NOSSOS? Sei que me olha como te olho, por que fugir? Será que sabe meu nome?

Beijos,

Manuel
10/04/30



Começou a espirrar, sabia que sua alergia atacaria a qualquer momento. Eram muitas as cartas, não daria pra ler todas, embora a curiosidade fosse enorme. Mas ignorou seus espirros e pensou na hipótese daquelas cartas não terem sido enviadas e aquela escada ser uma espécie de tumulo do amor que Manuel sentiu por Fernanda. Quis recolher algumas para ler em casa, mas seria um desrespeito. No entanto, prometeu a si mesma voltar ali sempre que possível para ler tudo.
Os anos se passaram, ela já amava Manuel. Sonhava todas as noites com o autor daquelas belas cartas, era como se ele escrevesse para ela. O seu nome?!

6 comentários:

madá disse...

-
manuel respondeu minha carta.
ah, que feliz.

Anônimo disse...

fer nao duh!

menina disse...

e com certeza ela sentiu esse amor q não foi vivido no tempo certo, com Manuel.

Unknown disse...

não sei..

não gostei muito do manuel.

achei ele um tanto quanto covarde.

paula r. disse...

não importa o nome; ela já se chamava fernanda.

Anônimo disse...

pra que dar nomes, se o melhor é só sentir!

bjos maria apimentada.